domingo, 11 de dezembro de 2016

Janela da Frente - CABE A CADA UM DE NÓS DECIDIR - Maria Teresa Serrenho



Nesta sociedade de egoísmo, em que as pessoas antes de agirem pensam primeiro em si próprias, pensam no que podem ganhar ou no que têm medo a perder. Chegam por vezes a ter medo de perder, mesmo, aquilo que não têm, nem nunca virão a ter.

Nesta sociedade em que é cada um por si, em que a ambição de querer ter e ser mais do que os outros, não os deixa olhar à sua volta, nem ver as injustiças, as desigualdades sociais, a corrupção, o compadrio, neste marasmo em que parece valer tudo.
Nesta sociedade em que vivemos, o individualismo não é uma opção consciente, estas atitudes não são tomadas por convicção ou ideologia. Estas pessoas têm, muitas vezes, apenas a ambição de vir a ter um empregozinho, ou um estágio miserável, e para o conseguirem, vão bajulando e idolatrando os representantes do “sistema”.
Outros apesar de conscientes do que se passa na sociedade, mesmo afirmando-se revoltados com a corrupção, compadrio e injustiça, não arriscam dar a cara, ou participar em qualquer acção de denuncia ou de cidadania interventiva, afinal “o que é que podem ganhar com isso? Nem vale a pena, vai ficar tudo na mesma”.
E nesta sociedade onde não se respeitam os outros como iguais, as pessoas vão perdendo o respeito pelos outros e por si próprias.
Quantas têm que diariamente conviver com situações que as revoltam interiormente, mas com as quais têm que pactuar, para manterem uma situação de sobrevivência, violentando-se a si próprias ao conformarem-se e ao aceitarem pacificamente pactuar com humilhações constantes e verdadeiros assaltos à sua inteligência.
Esses recalcamentos permanentes destroem a autoestima e muitas vezes seguem-se as depressões e os ansiolíticos, as doenças somatizadas, provocadas pelo stress, pelo desânimo e sobretudo pela falta de esperança.
Valerá então ou não apena agirmos, não nos conformarmos?
Cabe a cada um de nós decidir. Decidirmos as nossas opções, decidirmos se queremos ir ou ficar, se queremos olhar ou fechar os olhos, se queremos participar ou ficar a ver. As decisões são efectivamente solitárias e individuais, por isso têm tanto peso nas nossas vidas.
As decisões não são fáceis, o sentimento de responsabilidade e consciência cívica, o sentido de justiça e a defesa da liberdade, impulsionam alguns a escolher outros caminhos diferentes do “sistema”, ousando estar do outro lado.
O que é que ganhamos quando não nos conformamos, quando decidimos agir, quando damos a cara na defesa dos princípios em que acreditamos?
Ganhamos sobretudo respeito. Respeito por nós próprios, mas também o respeito dos outros, daqueles que se escondem atrás de um qualquer anonimato, por terem medo de dar a cara. Ganhamos respeito até mesmo daqueles a quem aparentemente atingimos, por denunciarmos as suas acções e comportamentos.  Ganhamos o sentimento de liberdade e só pode ser verdadeiramente livre, quem pode pensar “fora da caixa”, quem consegue libertar-se das influências estereotipadas da sociedade. Só é verdadeiramente livre o que consegue aguentar a pressão e ser coerente consigo mesmo.
 “Vemos ouvimos e lemos, não podemos ignorar” … Temos que ser todos e cada um de nós a fazer alguma coisa para mudar o que está mal, temos como cidadãos conscientes, de exigir mais, estar atentos, denunciar, agitar e desassossegar o marasmo instalado. Para isso temos que nos dispor a dar mais do nosso tempo e da nossa capacidade de participação para o bem comum, deixando a indolência da lamúria e sendo mais interventivos, mais activos, pois quando conseguimos mudar pequenas coisas à nossa volta, conseguiremos efectivamente mudar o país.
Alguns dizem que só com uma revolução o conseguiremos. Precisamos mesmo de fazer uma revolução. A revolução de mentalidades!