David contra Golias – o
caso do movimento reutilizar.org
“O preço a pagar pela tua não participação na política é
seres governado por quem é inferior.”
Platão (4 28 – 347 AC)
Platão (4 28 – 347 AC)
Há milhares de anos que se escreve sobre o afastamento dos
cidadãos da Política e da causa pública. Preferimos não ter opinião e/ou
simplesmente criticar quem a tem. É mais fácil ficar em casa e dizer que está
tudo mal que agir, tomar uma posição nos fóruns próprios e arriscar-se a ser
também alvo da crítica dos outros.
A consequência do alheamento da maioria dos Portugueses da
vida pública, no seu bairro ou na sua freguesia, na escola dos filhos ou no seu
sindicato, é deixar que o seu destino seja determinado por outros nem sempre
interessados apenas no bem comum!
Na opinião do Papa Francisco “envolver-se na política é uma
obrigação para um cristão,…, os cristãos não podem fazer de Pilatos, lavar as
mãos … Devemos implicar-nos na política porque a política é uma das formas mais
elevadas de caridade, visto que procura o bem comum”.
Ora, num país maioritariamente católico que atravessa uma das
maiores crises económicas da sua história recente, não se compreende que metade
dos eleitores não se dêem ao trabalho de ir votar!
A pergunta que se coloca é se a acção de cada um de nós pode
contribuir para a resolução dos problemas que mais afectam o quotidiano dos
Portugueses.
A minha experiência pessoal no movimento pela reutilização
dos livros escolares – reutilizar.org – demonstra que sim, é possível! Esta é
uma história que vale a pena contar.
Tudo começou com uma publicação no facebook que anunciava um
“banco” a que qualquer pessoa podia recorrer para oferecer ou receber
gratuitamente livros escolares. A publicação tornou-se viral e conduziu à
abertura de centenas de outros bancos um pouco por todo o País a que recorrem
todos os anos centenas de milhar de famílias demonstrando que a maioria dos
Portugueses pensa como eu e entende que o destino dos livros escolares dos seus
filhos não deve ser o lixo. A opinião generalizada é de que os livros devem ser
reutilizados por regra e que compete à tutela das escolas promover essa
reutilização.
Com o surpreendente crescimento deste movimento e com a
opinião pública mais informada sobre o assunto, veio a consciência das
dificuldades encontradas pelas famílias para reutilizar os seus livros
traduzida numa queixa apresentada ao Provedor de Justiça subscrita por mais de
5.000 pessoas que pela sua pertinência chamou a atenção dos partidos políticos
e da comunicação social.
Resultado disso temos hoje um Ministro da Educação disposto a
cumprir a lei e dois grandes trabalhos de jornalismo de investigação (TVI e
RTP) que demonstram que nada é inocente ou transparente no negócio dos livros
escolares. Fica claro que as duas empresas que conseguiram adiar uma década a
implementação de um sistema de empréstimo de manuais escolares, com grande prejuízo para o Estado e para todas as famílias com filhos em idade escolar,
tudo farão para impedir a acção do actual executivo e contam com o apoio silencioso
da mais representativa confederação de associações pais!
A batalha não está ganha mas a intervenção dos cidadãos foi
determinante para trazer para a agenda política um problema que durante 10 anos
os vários ministros da educação não foram capazes de ultrapassar!
O caso do movimento reutilizar.org e a causa dos livros
escolares é apenas mais um que demonstra que a acção de uma pessoa (seguida por
muitas outras!) pode fazer toda a diferença na vida de centenas de milhar de famílias
e deve servir de exemplo e motivação para todos os que querem dar o seu
contributo para um mundo mais justo e solidário!
Henrique Trigueiros Cunha
(fundador e porta voz do movimento reutilizar.org)
(fundador e porta voz do movimento reutilizar.org)