"O papel das Candidaturas
independentes na formatação do poder local"
As
eleições autárquicas estão aí à porta… hoje mesmo começou a campanha oficial, mas
há muito que encontramos por esse país fora, em praças e rotundas, em esquinas
e pontes, em ruas e ruelas, cartazes e panfletos, de todos os tamanhos e
feitios, que vão sendo colocados, alguns em sítios absolutamente despropositado
e com mensagens que roçam muitas vezes o ridículo, onde imperam promessas e
palavras chave vazias de conteúdo e de mensagem.
Durante
o Verão, encontrámos por todo o lado as obras habituais, feitas à pressa e
atabalhoadamente, os “tapetes” de alcatrão, o tapar de buracos, que lá estavam
há anos, o colocar de equipamentos, pintar edifícios e passadeiras, enfim o
costume… As obras não são feitas para ver satisfeita a necessidade de melhoria
de vida das populações, mas sobretudo porque eleitoralmente fica bem e as
pessoas esquecem rapidamente as lacunas e dificuldades porque passaram durante
4 anos, desde que o problema fique resolvido (mesmo que precariamente) antes
das eleições, alguns até se regozijam satisfeitos: “Ainda bem que há
eleições!...”
E nas
eleições autárquicas aparece de tudo, há os que colocam frases e trocadilhos
mais ou menos hilariantes, há candidatos que já concorreram por todas as forças
partidárias, em cada eleição conforme lhes dá jeito, concorrem por uma força
partidária diferente, depois os candidatos cujos passados autárquicos muito
deixam a desejar, mas não deixam de poder voltar a concorrer, o que será no
mínimo estranho.
E é
neste ambiente pouco sério, pouco credível que os cidadãos terão que decidir
quem escolher para em seu nome governarem o destino das suas terras. Nas
autárquicas quem vai afinal a votos? As pessoas ou as ideias? O marketing ou os
projectos? E os que forem eleitos quem irão representar? Quais os interesses
que irão defender?
Será
que representam os interesses do povo que os elegeu? Ou irão representar os
partidos e carregar de Boys e Jotinhas, ainda por cima, na maioria das vezes
incompetentes e medíocres, os vários departamentos municipais ou de freguesia,
ou mesmo as associações e organizações onde possam defender os interesses mais
ou menos dúbios de gente poderosa, que manipula a política a seu belo prazer.
No
meio deste marasmo, as candidaturas de Cidadãos Independentes, parecem ser sem
dúvida a oportunidade para tornar a nossa democracia mais participativa,
envolvendo e interessando novos protagonistas, quebrando esta teia emaranhada
de interesses e compadrios que atravessa a estrutura politica-o-partidária da
nossa sociedade, numa teia sistémica, muito difícil de romper ou penetrar, pois
o “sistema” encarrega-se de se perpetuar e proteger.
A
consciência da necessidade de quebrar essa teia, tem feito com que muitas
pessoas que nunca se interessaram directamente pela política, se disponham a
dar a cara, por um novo paradigma, por um outro olhar e para se disporem
efectivamente a trabalhar em prol das suas terras e dos seus concidadãos. Assim
surgiram os verdadeiros Grupos de Cidadãos Independentes, embora consciente das
limitações legislativas e burocráticas, que a par da falta de financiamentos, se
lhes colocam, estes grupos, também chamados de Independentes, estarão sempre
numa posição de desvantagem, tanto no ponto de partida, a quando da recolha de
assinaturas e de toda a burocracia inerente, como durante todo o processo de
campanha e eleição. Depois há o efeito perverso da apropriação por gente do
sistema, que utilizando o conceito de independência se serve dele para
continuar no poder, afrontando os partidos que anteriormente os apoiaram e que
provavelmente lhes retiraram o apoio. Há mesmo situações caricatas de um mesmo
candidato concorrer numas eleições pelo PS, noutras pelo PSD e a seguir
candidatar-se como independente. Claro que haverá com certeza gente que
desencantada com as forças de pressão e os manifestos interesses partidários,
se queiram livrar desse marasmo e se libertem seguindo a via da candidatura
independente, mas há também os
oportunistas que dizendo-se independentes, são afinal absolutamente dependentes
de interesses dúbios, geralmente relacionados com questões imobiliárias, obras
públicas e outras, onde defendem os seus
interesses e os dos seus apaniguados, denegrindo e fragilizando os
projectos genuínos dos cidadãos que apenas querem fazer alguma coisa de útil na
defesa das suas terras e dos seus concidadãos.
Mais de metade da população eleitora tem escolhido não
votar nas Autárquicas e o governo na maioria dos municípios, acaba por ser decidido
por cerca de 20% dos eleitores. Afinal as grandes “vitórias” eleitorais são
conseguidas com apenas 1/5 dos eleitores registados. Geralmente quando aparece
uma candidatura Independente, há uma maior participação dos abstencionistas.
Mas no fundo os Independentes, aqueles que o são
realmente, são a ameaça ao “sistema”, são o alvo a abater, quer pelos que se
consideram de esquerda, quer pela chamada direita. Para uns a candidatura
independente é considerada como uma candidatura-satélite do Bloco, outros
insinuam que será uma segunda candidatura do PSD ou de outro partido qualquer,
conforme o que estiver no poder. À esquerda, os independentes podem ser classificados
de proto-fascista; à direita recolhem o “simpático” adjectivo de tiranos. A
própria imprensa local, imprensa que de um modo geral, se encontra
economicamente fragilizada e dependente muitas vezes de subsídios e publicações
de editais das Câmaras e Juntas de Freguesia, não pode por isso afrontar o
poder instituído, por isso, para além de não darem cobertura aos independentes,
a maioria da opinião publicada concerta-se mesmo em ataques vorazes, numa
tentativa desesperada de os desmoralizar e desacreditar.
Esta é uma
autentica teia, tecida de mãos-dadas por quem a quer manter, por quem não criou
desapego ao poder, por quem vê a política como algo fechado a uma elite que se
apropria do poder como se fossem donos disto tudo…
As candidaturas independentes terão que ser
efectivamente sinónimo de mudança, de ousadia e inovação, provando que os
cidadãos têm voz e que Portugal não é uma espécie de manta de retalhos,
constituída por um conjunto de coutadas, ou de feudos, onde os senhores põem e
dispõem a belo prazer.
Claro que
dentro ou fora dos partidos haverá sempre gente independente, gente que não se
deixa manipular pelos outros, gente que pensa pela sua cabeça e que não teme
perder mordomias ou favores. Mas será que os partidos querem no seu seio, gente
que pense por si própria? Gente que questione ou refute a disciplina
partidária? Gente que coloque o bem comum à frente de interesses partidários
eleitoralistas? Claro que o conceito de independência pode variar de pessoa
para pessoa, e depende com certeza da forma como cada um vê a vida, mas as
pessoas têm que ser mais importantes que as manobras financeiras e os jogos de
poder. As pessoas não podem ser consideradas como meras peças de um Xadrez, que
gente sem escrúpulos manobra a seu belo prazer, indiferentes ao sofrimento
humano e à desigualdade social, cada vez mais marcada e injusta!
A
ignorância, a indiferença e o egoísmo são a principal causa do estado a que
chegou a nossa sociedade, a notória falta de conhecimentos dos cidadãos, a
falta de formação cívica, aliada aos medos e ao conformismo, são os principais
aliados do poder instituído. Os cidadãos ignorantes não se podem dar conta do
poder que efectivamente podem ter, os Grupos de Cidadãos Independentes são na
prática a possibilidade de tomar na mão o poder, o poder de afrontar
e de confrontar com novas propostas. Propostas e programas muitas vezes
plagiados pelos que estão no poder, o que não seria mau se não fossem
desvirtuados.
O
poder local precisa de mudança, a rapidez com que o mundo muda tem que ser
acompanhada por novos olhares, por novos protagonistas. Os cidadãos não podem
continuar a ser tratados como uns tolinhos, que se derretem com os concertos de
música pimba, com umas esferográficas ou uns sacos de plástico e que no dia das
eleições, ou nem vão votar, porque já não acreditam em ninguém, ou então vão
votar nos mesmos de sempre, como se de um clube se tratasse.
Os
Grupos de Cidadãos Eleitores têm vindo a aumentar, são cada vez mais e a sua
coragem e ousadia vão contagiando e dando ânimo a outros, o poder local tem que
ser um exemplo de cidadania, de transparência e participação, são um meio de
tomada de consciência do verdadeiro poder que os cidadãos podem ter, para que
venha a ser possível um outro conceito de poder local, assim consigam resistir
às tentações do sistema, assim consigam manter-se livres das teias que
constantemente os ameaçam.