terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Janela da Frente - VOZES DE CIDADANIA, OU "ESCAPES DO SISTEMA"? - Luís Serrenho






Vozes de Cidadania, ou “escapes do sistema”?

É cada vez mais é visível, para quem estiver atento às rádios e às televisões, na sua programação diurna, os programas destinados à participação dos ouvintes ou dos telespectadores, trazendo a debate temas de interesse popular, que prendem a atenção e incentivam à participação.
Geralmente os temas são relacionados com futebol, ou assuntos pouco relevantes, mas que servem de válvula de escape, esvaziando as indignações dos participantes, com lamentos, criticas e queixumes sempre permanentes.
Há muitas sugestões:  devia-se fazer assim ou assado, o que é feito lá fora é sempre melhor do que em Portugal, numa ladainha lamechas que não nos larga e é cada vez mais repercutida.
Mas, muitos dos participantes ficam com a sensação de que estão mesmo a dar a solução e sentem-se quase “conselheiros”, com soluções e diagnósticos fantásticos para o país. Agradecem sempre deixarem-nos participar e sentem-se realizados por poderem fazê-lo. Sentem que lhes deram voz. Como se essa voz contasse para alguma coisa!...
Depois há o Facebook, onde muitos escrevem verdadeiro tratados de "economês", de “alta” política, com soluções para todos os gostos ao redor dos mesmos temas que a Comunicação Social vai colocando na agenda mediática.
E assim a pressão vai sendo aliviada, tal como numa panela de pressão, estes são escapes do sistema, propositadamente construídos para suavizar tensões acumuladas.
Vamos ficar melhor ou pior?
Vamos ver o que dá!
Esperamos para ver.
Estas são sempre as expressões de dúvida que assaltam aquelas mentes, que de uma forma consentida vão alimentando o “sistema”.
Não nos deixemos acomodar. Precisamos de ser CIDADÃOS activos.
A Cidadania só existe quando o cidadão se move pelos seus direitos, se indigna pelas injustiças, e luta pela Liberdade!

Luís Serrenho


domingo, 29 de janeiro de 2017

Janela da Frente - ÁGUA: NEGÓCIO INQUINADO - Paulo de Morais









 Água: negócio inquinado


A água é a riqueza nacional maior do século XXI. Mas este património colectivo está em vias de ser totalmente transferido para privados.

Nos últimos anos, foram já inúmeros concelhos que alienaram o negócio da distribuição de água, através de malfadadas parcerias público-privadas. Em Paços de Ferreira, Barcelos e muitos outros municípios, os autarcas assinaram contratos ruinosos, garantindo preços elevados na água a pagar pelos consumidores, ao mesmo tempo que se vinculavam a consumos colectivos mínimos. Os cidadãos começam então a suportar preços elevados; e, quando o consumo não atinge os valores previstos, as Câmaras assumem os custos, a título de indemnizações compensatórias. Neste modelo, os cidadãos pagam sempre: de forma directa, enquanto consumidores, ou indiretamente enquanto contribuintes.

Os concessionários privados garantem rendas fixas num negócio em regime de monopólio. Ainda por cima, num serviço de primeira necessidade, de que os cidadãos não podem ser privados. Sabendo disto, os privados renegociarão os contratos sempre em situação de força, face a entidades públicas vulneráveis.

A agravar tudo isto, alguns contratos são celebrados por prazos obscenos. Em Vila Nova de Gaia, a concessão do serviço já vai em vinte e cinco anos e, em Braga, os parceiros privados da empresa municipal AGERE (nomeadamente a DST) têm rentabilidades obscenas garantidas por cinquenta anos! É inaceitável que autarcas eleitos por mandatos de apenas quatro anos possam comprometer os orçamentos municipais ao longo de duas gerações.

A água, que deveria constituir um serviço público essencial, e que constitui até um direito humano, está pois a transformar-se gradualmente num negócio capturado por interesses económicos gananciosos.


Paulo de Morais


quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Janela da Frente - JA NÃO HÁ NOTÍCIAS - António Manuel Ribeiro






Já não há notícias


Não amigos, não há, há repetições de lugares comuns, o mais do mesmo a que nos habituamos para continuarmos consumidores e clientes, utentes por vezes, em vez de cidadãos.
Para mim a notícia – triste, desgraçada – da manhã de ontem, quarta-feira, tinha a ver com a revelação de que Portugal não fizera progressos na luta contra a corrupção e descêramos um lugar no ranking. A notícia rainha substituta, filmada de todos os ângulos e com os esclarecimentos mais pueris levados à exaustão da vulgaridade, dissecava o acidente com o katamaran que faz a travessia do Tejo e provocara alguns feridos: o pico informativo aconteceu quando um canal de TV passou de 10 acidentados para 34 – o top estava conseguido.
As bicas pararam nos cafés de boca aberta para as televisões; no trânsito os noticiários suscitaram alguns toques e mais lentidão em que gosta de ver a desgraça alheia; na Assembleia da República os comentadores depenicavam-se porque o PSD ia votar ao lado do BE e da CDU contra a TSU. À noite, as explicações oriundas da pureza ideológica fizeram-me sorrir, o interesse da nação é substituído pelo chiste palavroso povoado de lugares-comuns, tão comuns, tão mais do mesmo. Já não há notícias. O governo governa à vista e a malta equilibra-se como pode sobre a jangada.
O país continua corrupto e mesmo assim há quem fale ex-cathedra sobre a necessidade de investimento externo. Como? Num país corrupto? Num país com uma política fiscal flutuante de ano para ano? Num país que paga empréstimos a 10 anos acima dos 4% e não vai crescer mais do que um por cento e qualquer coisa que logo se vê?
Precisamos de mais acidentes no Tejo para afastar o enfoque nos acidentes que virão certamente bater-nos à porta, se não deixarmos de navegar à vista.
 
António Manuel Ribeiro