Maio maduro Maio…
Maio inspirador de músicos e
poetas, é um mês de renascimento da Natureza, de explosão de flores e de
amores, os campos vestem-se de um verde resplandecente, as árvores cobrem-se
brilhantes de vida e os animais constroem os seus ninhos e escolhem os seus
pares, as rosas desabrocham, tudo parece renascer. Em muitas terras do nosso
país é costume a população fazer piqueniques, e são
organizadas algumas festas, quer no dia 1 de Maio, quer no dia da espiga. Será
provavelmente
este clima de “revolução”, de fecundidade da Natureza, que motivou e deu
coragem aos revolucionários e activistas, desde os operários que reivindicaram
menos horas de trabalho, até aos estudantes de 68 em Paris, passando por muitas
outras lutas e insurreições.
É a 9 de Maio que se celebra
o dia da Europa (muito discretamente comemorado).
Maio é, pois, conotado como
um mês de protestos, de manifestações,
de greves, de reivindicações, de direitos dos trabalhadores.
Foi
com muita emoção que vivi o primeiro 1.º de Maio da nossa democracia. Tinha
então 18 anos, feitos há menos de um mês e toda a inocência, entusiasmo e
esperança num país novo. Foi um dia maravilhoso, toda a gente na rua, flores
variadas nas mãos de cada um, muitos cânticos de intervenção e da revolução
eram entoados em coro por todas as cidades do país. “Foi bonita a festa pá!”
Hoje
tenho consciência de que muitos que estavam ali, estavam apenas camuflados de
democratas, muitos deles pertenciam até à PIDE. Muitos fascistas e
colaboracionistas que se misturavam com a multidão, ainda não se sabia quem
eram… E o pior é que mesmo depois de se saber, acabaram impunes, sem julgamento
ou punição, muitos deles se camuflaram de democratas, corrompendo desde logo a
nossa frágil democracia.
O mês de Maio sempre foi um
mês especial na minha vida. Primeiro porque me acompanha todo o ano, chamo-me
Maria Teresa Maio (…), herdei o Maio do meu avô materno, provavelmente a minha
figura paternal, dado que fiquei sem pai muito cedo. O meu avô era de Aveiro e
era embarcadiço, sempre que chegava das viagens, era uma festa para mim. Contava
como eram bonitas aquelas terras distantes e o mar. Era padeiro a bordo, e
fazíamos sempre bolos em conjunto, provavelmente foi ele que me transmitiu o
gosto e o jeito pela cozinha.
Não sei qual seria a origem
do apelido do meu avô, mas sei que ele era diferente, era sempre tratado com
muita consideração pela vizinhança, era o “Senhor Maio”, o senhor que recebia e
lia, todos os dias, o jornal O Século, entregue à porta pelo ardina. Era um
homem do Mundo, numa época em que imperava a iliteracia e a ignorância, talvez
por isso, achei sempre que o seu nome “Maio” lhe assentava muito bem e ainda
por cima morava tal como eu, na Rua 15 de Maio.
Mas
a vida não pára e eis-nos chegados a um novo Maio. Este Maio de 2018, iniciei-o
bem longe, na Polónia, num preocupante calor de Verão antecipado, fui visitar o
meu filho, um dos muitos mancebos, que teve que procurar a vida longe do seu
país.
Nesta
viagem não podia deixar de visitar Auschwitz, um retrato de horror, um
testemunho muito importante do quanto podem ser cruéis os seres humanos, uns
com os outros. Foi difícil, para mim, foi como uma peregrinação, uma homenagem
sofrida a todos os que ali ficaram, a todos os que ali sofreram as barbaridades
dos seus carrascos.
E ainda em Maio, de regresso
a Portugal, trago, claro, as saudades do meu filho, alguma angústia e
preocupação pelas alterações climatéricas, um estranho Verão antecipado da
Polónia e uma fresca e chuvosa Primavera em Portugal e uma preocupação
constante do rumo das políticas, que constantemente ameaçam a sempre frágil
Democracia.
Estive ausente uma semana, mas
fui acompanhando tristemente as notícias e verifiquei que, não obstante
estarmos em Maio, as pessoas do meu país, continuam numa letargia assustadora,
não se indignam, não se agitam e vão-se acomodando pacificamente à “velha”
corrupção, que é cada dia mais evidente e descarada, vão-se habituando às
injustiças constantes, às falhas dos governantes, à inoperância da Justiça, às
carências dos serviços sociais.
Chega! Acordem, estamos em
Maio, olhem em volta, façam alguma coisa, mexam-se!
A Democracia é um bem
precioso, não podemos deixar que a ponham em risco com a ganância e a
corrupção, mascarada de boas intenções e afectos!
Maria Teresa Maio Santos
Milhanas Serrenho
10 de Maio de 2018