"O Mundo em NÓS - Europa"
A sociedade de hoje, um barco à
deriva, náufraga de valores referenciais, abandonado ao leme e sem timoneiro,
braceja em esforço à procura de terra firme, sob o estigma de um passado
destruidor e na incerteza de um amanhã promissor.
Desde a 2ª Guerra Mundial do pânico
e da devastação, à “Guerra Fria” das ideologias de pólos opostos, o mundo de
hoje, afunda-se na loucura dos homens (Trump; Putin e outros…), pela permanente ameaça de
uma guerra nuclear (Coreia do Norte e do Sul, China e outros…), pelo regresso à
disputa de territórios (Israel e Palestina) ou ainda pelo “império do medo”, o
terrorismo internacional, (Daesh; ISIS), como se o mundo pudesse subsistir a este
concurso de “vaidades” que conduzirá a Humanidade à sua indubitável e progressiva
destruição.
Vivemos hoje, sob a permanente
ameaça de uma nova guerra mundial, alicerçada na ausência de valores
referenciais, no crescimento dos partidos anti-sistema, no definhar da
Democracia e na sublimação de uma nova “era de extremos”, temáticas que alguns levianamente
insistem em rotular de “avanços civilizacionais”.
A este “ecléctico modernismo” que
tempera as sociedades de hoje, mas que nada aprenderam com o passado, eu designo-o por crises de identidade, um
recuo civilizacional, a insegurança que resulta da quebra dessa relação de natural
cumplicidade entre a Democracia e a “paz”, porque, tal como bem refere Frei
Fernando Ventura: “enquanto forem os fabricantes de armas a negociar a “paz”, o
resultado será sempre a guerra”, além de que, “as soluções para a paz não estão
nas mãos dos estados, mas nas mãos das pessoas que sonham e desesperam
O desespero dos homens, encontra
eco na ausência de pragmatismo e de valores ideológicos, na incapacidade revelada
pelas elites políticas em solucionar os grandes desafios que preocupam a Moderna
Europa, desde logo, a identidade dos povos e o multiculturalismo, a religião pela
tolerância e diversidade confessional, a crise das democracias e os problemas
de integração cultural das sociedades que, expostas a radicalismos, à capitalização
ideológica ou populismos emergentes, nos transmitem a incerteza quanto à permanecia
de uma Paz duradoura, a “ausentia belli”, essa sim, verdadeiramente tranquilizadora
da humanidade.
A Europa de hoje e os perigos que
a ameaçam, exigem uma reflexão profunda e actualizada à “Declaração de Schumann”,
às fragilidades Europeias endógenas e exógenas, ao “esforço criador” ou redutor,
das elites políticas que nos governam.
Não admitir as fragilidades da
Europa de hoje, é percorrer o mesmo caminho das actuais lideranças políticas, é ignorar
as acentuadas desigualdades sociais, o crescendo dos nacionalismos e movimentos
anti-sistema, a insegurança potenciada pelo terrorismo, as barreiras culturais
e sociais ao emprego, as diversidades civilizacionais e confessionais, todas
elas em resultado de espaços abertos e multiculturais, em suma, estamos prestes
a negar ao Continente Europeu esse património histórico que lhe confere o
estatuto de zona geográfica mais pacífica do mundo.
Colocar em causa a “paz” na
Europa, é inverter esse legítimo sonho de uma das economias mais promissoras e
simultaneamente mais criativas, é ignorar a desigualdade entre classes sociais,
é assumir as vulnerabilidades que conduzem à capitalização ideológica de
extremos, é abrir caminho à radicalização e aos populismos, lugares comuns onde
habitualmente se refugiam cidadãos desalentados, simultaneamente incrédulos e
inseguros, face à inércia das elites políticas e ao “status quo” que as mesmas representam.
Mais importante que celebrar, a 9
de maio, a Europa, é urgente refletir a Europa.
A Europa que construímos é uma “Europa
de Tratados e não um Estado”, o que explica decisões de valor contraditório,
caso do "Brexit" no Reino Unido ou o "Grexit" na Grécia, a possível formação de
governos com partidos anti-sistema, caso da Liga em Itália, ou da direita
xenófoba e cunho nacionalista, hostis à União Europeia, mas também de
sensibilidades díspares quanto às questões de soberania, principal divisa dos
eurocéticos, sem esquecer as reais fragilidades inerentes às questões de
segurança desta Moderna Europa, uma entidade que se revela incapaz de garantir, de modo uniforme,
a segurança dos cidadãos em espaço único europeu.
Tal como George Friedman
recentemente proferiu nas “Conferências de Lisboa”, esta Europa que emergiu da
“ideia de um sistema político no qual a democracia liberal controla as nações,
mas no qual as nações são controladas por uma entidade… não existe, por não
corresponder à realidade”, ao que acrescento… é a ficção que nos governa.
"O Mundo em Nós - Europa", não é
mais que uma voz que se levanta, um grito de desespero e revolta em nome de uma cidadania europeia activa, a contestação ao permanente encobrimento e passividade
políticas das actuais elites desta “Nossa" Europa, ou seja, a fundamentada imagem de uma Europa náufraga que, lentamente se afunda num mar de
incertezas.
Jorge Amaro
24/05/2018
Jorge Amaro
24/05/2018