Quem
tem medo?
Um
poeta escreveu em tempos “O Sonho comanda a vida”, pode o medo substituir o sonho?
Hoje é o medo que comanda a vida?
A
sociedade em que vivemos, cria-nos medos constantes, vivemos cercados de medos por todos
os lados. Uma pessoa com medo cria dentro de si, ódio, raiva, despeito, inveja,
rancor e até doenças. O medo atrofia, faz-nos estagnar.
São
vários os filósofos contemporâneos, que por considerarem o medo um problema da
humanidade, escrevem sobre o medo, sobre os medos. Um deles Eduardo Galeano, escreveu
o poema “Viver sem medo”, do qual transcrevo um excerto, onde são plasmados os
vários medos com que efectivamente acabamos por viver no dia a dia:
“Se
você ama, terá AIDS;
Se fuma, terá câncer;
Se respira, terá contaminação;
Se bebe, terá acidentes;
Se come, terá colesterol;
Se fala, terá desemprego;
Se caminha, terá violência;
Se pensa, terá angústia;
Se duvida, terá loucura;
Se sente, terá solidão”(…)
Se fuma, terá câncer;
Se respira, terá contaminação;
Se bebe, terá acidentes;
Se come, terá colesterol;
Se fala, terá desemprego;
Se caminha, terá violência;
Se pensa, terá angústia;
Se duvida, terá loucura;
Se sente, terá solidão”(…)
Se, se… e os ‘se’, vão condicionam
a vida de cada um, mas também a vida da sociedade, do país, do mundo.
O
grande motor do mundo não pode ser o medo, ninguém pode ser feliz e próspero com
o medo a pesar-lhe constantemente sobre a cabeça. O amor à Liberdade tem que se
sobrepor ao medo.
O
medo tolhe, oprime, condiciona. Não há pior censura do que a que infligimos a
nós mesmos, a auto-censura faz-nos estagnar.
É
preciso termos a coragem de não sermos politicamente correctos, termos a
coragem de fazer escolhas difíceis, defendendo a nossa dignidade e a nossa
honra, sem ter que dizer sim, quando se quer dizer não, sem ter que elogiar,
quando devemos denunciar, sem ter que sorrir, quando nos apetece gritar.
É preciso assumir com
coragem a defesa daquilo em que verdadeiramente acreditamos, os nossos ideais e
os nossos sonhos.
Precisamos teimar em ter
esperança, recusando o fatalismo conformista e lamecha!...
É preciso acreditar e ousar propor
alternativas e novas maneiras de enfrentar a vida, os problemas e a política.
“Liberdade, liberdade, quem
na tem chama-lhe sua”, dizia uma antiga cantiga. Só pode ser verdadeiramente
livre, quem consegue libertar-se das influências estereotipadas da sociedade,
quem não se deixa dominar pelos medos.
Só é livre quem consegue
aguentar as pressões e ser coerente consigo mesmo. Aquele que consegue ser justo
com quem o rodeia e sobretudo o que não necessita de se “vender” por uma influência,
por um emprego, ou até por um ‘tacho’ mais ou menos insignificante!...
Há 44 anos que vivemos em
liberdade, porque é que se encontram tantas preocupações com o que os outros
dizem ou pensam? Porque é que ainda há gente com medo de falar ou até de se
aproximar deste ou daquele, só porque defende uma ideia diferente? Porque é que
há quem pense poder mandar nos sentimentos e nas atitudes dos outros? Quem é
que condiciona a liberdade de cada um?
A Liberdade é preciosa e frágil, não
será nunca um bem adquirido e permanente. Não podemos por isso deixar que
alguém a coloque em causa.
Só é verdadeiramente livre
quem se sente livre e como diria outro poeta: “não há machado que corte a raiz
ao pensamento, porque é livre como o vento, porque é livre!”
Maria Teresa Serrenho