sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Janela da Frente - Quem tem medo? - Maria Teresa Serrenho


Quem tem medo?

Um poeta escreveu em tempos “O Sonho comanda a vida”, pode o medo substituir o sonho? Hoje é o medo que comanda a vida?
A sociedade em que vivemos, cria-nos medos constantes, vivemos cercados de medos por todos os lados. Uma pessoa com medo cria dentro de si, ódio, raiva, despeito, inveja, rancor e até doenças. O medo atrofia, faz-nos estagnar.
São vários os filósofos contemporâneos, que por considerarem o medo um problema da humanidade, escrevem sobre o medo, sobre os medos. Um deles Eduardo Galeano, escreveu o poema “Viver sem medo”, do qual transcrevo um excerto, onde são plasmados os vários medos com que efectivamente acabamos por viver no dia a dia:
“Se você ama, terá AIDS;
Se fuma, terá câncer;
Se respira, terá contaminação;
Se bebe, terá acidentes;
Se come, terá colesterol;
Se fala, terá desemprego;
Se caminha, terá violência;
Se pensa, terá angústia;
Se duvida, terá loucura;
Se sente, terá solidão”(…)
Se, se… e os ‘se’, vão condicionam a vida de cada um, mas também a vida da sociedade, do país, do mundo.
O grande motor do mundo não pode ser o medo, ninguém pode ser feliz e próspero com o medo a pesar-lhe constantemente sobre a cabeça. O amor à Liberdade tem que se sobrepor ao medo.
O medo tolhe, oprime, condiciona. Não há pior censura do que a que infligimos a nós mesmos, a auto-censura faz-nos estagnar.
É preciso termos a coragem de não sermos politicamente correctos, termos a coragem de fazer escolhas difíceis, defendendo a nossa dignidade e a nossa honra, sem ter que dizer sim, quando se quer dizer não, sem ter que elogiar, quando devemos denunciar, sem ter que sorrir, quando nos apetece gritar.
É preciso assumir com coragem a defesa daquilo em que verdadeiramente acreditamos, os nossos ideais e os nossos sonhos.
Precisamos teimar em ter esperança, recusando o fatalismo conformista e lamecha!...
É preciso acreditar e ousar propor alternativas e novas maneiras de enfrentar a vida, os problemas e a política.
“Liberdade, liberdade, quem na tem chama-lhe sua”, dizia uma antiga cantiga. Só pode ser verdadeiramente livre, quem consegue libertar-se das influências estereotipadas da sociedade, quem não se deixa dominar pelos medos.
Só é livre quem consegue aguentar as pressões e ser coerente consigo mesmo. Aquele que consegue ser justo com quem o rodeia e sobretudo o que não necessita de se “vender” por uma influência, por um emprego, ou até por um ‘tacho’ mais ou menos insignificante!...
Há 44 anos que vivemos em liberdade, porque é que se encontram tantas preocupações com o que os outros dizem ou pensam? Porque é que ainda há gente com medo de falar ou até de se aproximar deste ou daquele, só porque defende uma ideia diferente? Porque é que há quem pense poder mandar nos sentimentos e nas atitudes dos outros? Quem é que condiciona a liberdade de cada um?
A Liberdade é preciosa e frágil, não será nunca um bem adquirido e permanente. Não podemos por isso deixar que alguém a coloque em causa.
Só é verdadeiramente livre quem se sente livre e como diria outro poeta: “não há machado que corte a raiz ao pensamento, porque é livre como o vento, porque é livre!”

Maria Teresa Serrenho