Bem… depois de um fim de
semana sui generis, com um sábado pleno de acontecimentos “gloriosos” a que
seguiu uma chusma de notícias reportagens, entrevistas… os acontecimentos
foram-se atropelando uns aos outros…
E o nosso jornalismo, que
explora até ao tutano as banalidades do dia a dia, desde o futebol às visitas e
selfies, afectuosas, do Presidente da Republica, vê-se de repente confrontado
com três acontecimentos no mesmo dia. Acontecimentos que poderiam, cada um, dar
uma semana de notícia, no mínimo.
Foi azar! Afinal poderia render
muito mais. Vai tudo acontecer no mesmo dia?...
A vinda do Papa Francisco que já
andava a ser notícia há semanas, com todos os detalhes, da segurança, à
dormida, das flores ao mais ínfimo pormenor, seria com certeza motivo de
reportagens, entrevistas, opiniões, interpretações, enfim o costume…
Mas não! Logo a seguir, joga o
Benfica e torna-se tetra campeão, e pronto, foram as comemorações nas ruas, e
claro os comentadores, as jogadas, o regozijo, as criticas e as felicitações dos
adversários…
Quase em simultâneo, a
transmissão do Festival da Eurovisão!
O Festival que passou por longos
anos de quase indiferença, considerado por muitos como démodé… De repente,
passou a ter honras de notícia total. Portugal ganhou! Todos os órgãos de
comunicação social, das televisões, às rádios e aos jornais, quer digitais quer
em papel. A exaltação do orgulho nacional, foi unânime e motivo de mensagens,
entrevistas, opiniões…enfim o costume...
Segunda feira chegaram mais
boas notícias, a economia portuguesa cresceu 2,8% no
primeiro trimestre de 2017, o mais positivo dos últimos 10 anos!...
Eis que Portugal é já fonte de inspiração para
outros povos, outros países…
Claro que as coisas boas, são sempre boas! As coisas boas trazem mais esperança, mas...
Vamos lá imaginar…o país das maravilhas, onde as
ruas, p’ra variar, serão perfeitas bandas desenhadas, que animarão o nosso Verão,
com personagens fofinhas que tudo prometerão…daqui até Outubro, até as “bengalas
dos velhos, são feitas de chupa-chupa” e a festa será permanente! Dos
concertos, ao porco assado, dos bailaricos, ao fogo de artificio… Nada faltará…
E a gente comum, a gente que constrói o país, a
gente?...
A gente, vai fazendo a sua vida, vai assistindo a
tudo, muitas vezes com um sorriso amargo no canto da boca e com a mesma carteira
vazia, com os mesmos problemas, com a mesma precariedade, com a mesma sensação
de revolta interior, com as mesmas injustiças, com os mesmos medos, com os
mesmos comprometimentos, com o mesmo conformismo…
“(…)
como se o futuro fosse hoje, como se a eternidade fosse aqui... como se o penalti
fosse a última das ofensas, como se os fora de jogo que realmente importam não
fossem justamente os milhões de seres humanos postos “fora de jogo”,
“penaltizados” no seu direito de ser gente, no seu direito de ser pessoa,
dentro do campo da vida, com o direito a viver em plenitude o campeonato da
existência.” (Frei Fernando Ventura, in Tribuna Expresso)
Este foi o tempo do regozijo, esperemos que agora venha o tempo do compromisso, por parte dos que se propõem a fazer das nossas freguesias e dos nossos municípios, locais melhores, onde haja melhor qualidade de vida, onde possa haver de novo esperança num país mais justo e equitativo, onde a festa seja mesmo de todos!...