CORRUPÇÃO E PECADO
“O
Pecado perdoa-se, a Corrupção Não”. Quem o afirma é o Papa Francisco, em livro
recentemente editado em Portugal. Porquê? Porque o perdão implica
arrependimento, o que acontece quando se peca. Mas a corrupção nunca traz
arrependimento aos corruptos, e assim é como uma assimilação permanente do
pecado. Logo, não havendo arrependimento, não há direito ao perdão. Esta
mensagem do Papa é particularmente importante em Portugal, sociedade com
características psicossociais marcadas pela tradição católica; numa comunidade dominada
pelo perdão, pelos brandos costumes, pela permissividade.
No
mesmo livro, “Corrupção e Pecado”, o Papa que por estes dias visita Fátima,
proclama ainda que a Corrupção tem de ser denunciada. Diz-nos que “a corrupção
é como o mau hálito”, têm de ser os outros a assinalá-la, uma vez que os
próprios dela se não apercebem. Francisco vai mais longe, preconiza a denúncia da corrupção sem complexos. Com efeito, quem denuncia tem de
ser protegido ou premiado, em qualquer circunstância. Esta denúncia corajosa
deve ser entendida como colaboração com a Justiça.
Não
perdoar a corrupção, denunciar a corrupção, sempre. Infelizmente, não tem sido
esta a forma de reagir da sociedade portuguesa. A marca tem sido a passividade.
E não é uma passividade por ignorância. Pois os casos de corrupção estão à
vista, impõem-se-nos, de forma ostensiva e arrogante (Euro 2004, Expo 98, BPP,
BPN, aquisição de submarinos, Banif e BES, Swaps, Parcerias Público-Privadas).
Mas não há condenados e, quando há, estes não cumprem as penas. Não há ainda
recuperação dos activos. A impunidade é a norma. E, na prática, a impunidade do
sistema face à corrupção, funciona como um perdão aos corruptos e ao próprio
fenómeno.
Além
do mais, a sociedade não denuncia. Em primeiro lugar, porque a denúncia não é
fácil. Apesar de haver legislação de protecção a denunciantes, sabemos bem que
ela não é levada muitas vezes em linha de conta. Todos conhecemos situações de
funcionários que, por terem denunciado situações ambíguas ou menos sérias,
foram perseguidos ou afastados. Por outro lado, não há denúncias de corrupção porque
muitos dos cidadãos andam anestesiados, alienados do fenómeno social, da sua
vida pública; enquanto outros, apesar de mais conscientes, caíram na
desesperança.
“A
corrupção cheira a podre” diz-nos o Papa. Acrescento eu que uma democracia que
está dominada pela corrupção, também cheira a podre. Precisa claramente de uma
regeneração. E o primeiro passo para a regeneração é a consciencialização de
que ela está podre. É pois necessário agitar este ambiente pantanoso, para que
uns acordem e outros recuperem a esperança. Aliás, também neste livro, o Papa
nos apela ”Não temas… a esperança. A esperança não engana”.