sábado, 24 de novembro de 2018

Palavra de ordem… “ACORDAR”

Palavra de ordem… “ACORDAR”


Acordar, é o verbo que dá título à reflexão que vos proponho para esta semana, sendo meu propósito utilizar os acontecimentos ocorridos em França no passado fim de semana, os “gilet jaune”, para, por um lado, despertar algumas consciências cidadãs adormecidas ao som de melodias de retórica do poder, esquecendo-se que é imensa e poderosa a força espontânea que emerge da cidadania, por outro, deixar as adequadas “advertências” aos órgãos de soberania, Governo, Parlamento e Presidente da República, de que a sociedade tem momentos em que parece querer seguir as leis da física, e se por vezes nos pareça estática, cega e servil, na verdade, ela é dinâmica, tal como os princípios enunciados por Newton. É preciso saber medir-lhe a força, essa grandeza que tem a capacidade de vencer a inércia colectiva.


Os acontecimentos de França, têm na sua génese, um reiterado aumento do custo de vida, e no imediatismo do problema os sucessivos aumentos dos combustíveis, razão pela qual, em nada me surpreendia que esta acção directa de protesto tivesse ocorrido em Portugal, aliás, para além das coincidentes motivações, aproveito este momento em que está em cima da mesa a discussão do OE 2019, para lembrar às tais consciências adormecidas que, o Governo se propõe, aprovar a maior carga fiscal de sempre sobre os cidadãos, dar continuidade aos ruinosos contratos das PPP`s rodoviárias, a não reduzir o valor do IVA da energia, apontando, como solução para as famílias de mais baixos rendimentos a redução da potência contratada, tal como, se propõe continuar a exonerar desmesuradamente o preço dos combustíveis pela aplicação, sem critério objetivo, do imposto (ISP). Assim sendo, e porque as motivações dos cidadãos portugueses são basicamente coincidentes com as de França, suposto seria que também as acções de protesto o fossem. Pois não é verdade, nem assim acontece, porque estamos em presença de “forças” com vontades díspares. 

Enquanto em França, os cidadãos se organizam e conduzem os protestos, com sucesso, através das redes sociais, à margem de qualquer estrutura partidária ou sindical, um movimento que não precisa de líderes para bloquear praticamente todo o país, uma gigantesca manifestação de rua contra o governo de Emmanuel Macron e Édouard Philippe, em Portugal, as lutas de rua estão socialmente assumidas como se fossem um "monopólio" dos sindicatos, são igualmente indispensáveis à agenda política dos partidos de esquerda, e as greves, confinam-se à estrita defesa de interesses corporativos da classe, já os Governos, estão mais preocupados com a continuidade, e por isso gerem o país em função de calendários eleitorais, o Parlamento, é uma mera caixa de ressonância dos executivos, um hemiciclo com 230 deputados, ausentes/presentes, com morada falsa ou real, com direito a viagens e subsídio acumulado, com ética ou sem ética, este é o hemiciclo da promiscuidade nacional. O Presidente da República, gere a sua agenda mediática em função dos desastres nacionais, infelizmente para o país tem havido muitos, e por falar em desastres nacionais, fogos florestais e roubo de armas em Tancos, continuamos a assistir a um lixiviar de acontecimentos com gente a meter a cabeça na areia ou a querer passar pelos intervalos da chuva, mas ao Presidente da República, simultaneamente Comandante Supremo das Forças Armadas, os cidadãos exigem-lhe mais autoridade e maior responsabilidade para o exercício dos cargos que representa, até porque, decorridos mais de um ano, não basta insinuar que “vai mandar apurar factos”, possivelmente convicto de que a expressão, “In dubio pro reo”, na utilização do princípio jurídico da presunção da inocência, será mais fácil sanar o insanável, evitar a Vª Exª um apurado trabalho à luz dos deveres constitucionais, bem como, evitar os indesejáveis conflitos de partes no seio da “Geringonça”, o que torna mais soft gerir um país  onde a oposição é frágil, se encontra dividida e demonstra ser incapaz de se transformar numa alternativa credível para Portugal.

A razão prática da reflexão que vos propus, resulta do facto de não me assistirem dúvidas quanto ao escopo social que está na base dos protestos em França, os “gilet jaune”, tal como dúvidas não me assistem, de que os cidadãos portugueses, a quem assistem razões idênticas para protestar, têm na sua génese análogo escopo social, ou seja, são CIDADÃOS, gente cuja marca ideológica pouco nos importa, “anónima”, da classe média e baixa, indefesos perante a justiça, profundamente descriminalizados por acentuadas desigualdades sociais e fiscais, "vítimas" que preferem deixar-se embalar pelo conforto do sofá, para assistir ao jogo de futebol do clube do seu coração, e protestam com o árbitro, mas são incapazes de protestar na rua, porque na rua serão os outros que o farão por si!!!
As diferentes gerações de cidadãos franceses que decidiram protestar contra um poder político de medidas impopulares, são os que reconhecem que os partidos políticos e estruturas sindicais já não respondem aos legítimos anseios da sociedade, incapazes, rendidos ou vendidos ao poder, respondem apenas aos seus apaniguados, ademais, assistimos a uma ruptura sem precedentes entre a imagem dos representantes políticos e a imagem que deles anseiam os representados, os cidadãos têm razões acrescidas para não se conformar com a morosidade da justiça, com a má qualidade dos serviços públicos, com a corrupção generalizada do poder, tal  como, com as recorrentes injustiças fiscais. Disto isto, poderíamos, muito bem, estar a falar da sociedade portuguesa, dos nossos modestos cidadãos, pois, são idênticas aos gilet jaune” as motivações para a revolta. Deixo-vos por isso uma palavra de ordem, “ACORDAR”.

Acordai-vos uns aos outros, principalmente, que os cidadãos, mais despertos, mais informados e menos conformados, decidam abanar a consciência dos mais adormecidos, para os chamar à razão, sob pena de um dia ser tarde e TODOS, uns e outros, poderem acordar ao som da indesejável melodia de um qualquer populista.

Vamos em Frente!!!

Jorge Amaro
23/11/2018