Escolho Portugal
Ontem foi dia de
Portugal. Nasci portuguesa, Portugal é a minha pátria, como é de muitos
milhares de Portugueses espalhados pelo Mundo fora.
Somos portugueses
porque aqui nascemos, mas, ninguém pode escolher a terra onde nasceu. Não escolhe
nem o país, nem a cidade, nem a família, nem a condição social…
Somos Portugueses e por
isso herdámos características ancestrais que marcam a nossa maneira de ser,
acolhedora e prazenteira, universalista e tolerante.
Mas se estas escolhas
não pudemos fazer, há muitas outras que definem os nossos caminhos, porque a
vida faz-se de escolhas, de escolhas, que condicionam a nossa vida e a vida dos
que nos rodeiam.
Desde pequenos que
fazemos escolhas, escolhemos ser “comportadinhos”, ou fazer birras, escolhemos
os amiguinhos, as brincadeiras… E cedo aprendemos e compreendemos, que em consequência
dessas escolhas recolheremos punições ou recompensas.
Observamos vários tipos
de pessoas, aqueles que escolhem estar sempre do lado dos que consideram ter o
poder, numa atitude de “lambebotismo” incansável, aqueles que tudo fazem para
agradar e que têm sempre medo de perder alguma coisa, muitas vezes até de
perder aquilo que não têm, nem nunca virão a ter.
Depois há os que
escolhem ser “revolucionários”, que tudo criticam sentadinhos na mesa de um
café ou no sofá, esperando que outros actuem, e como “treinadores de bancada”
dão as instruções “precisas” de como os outros, os que dão a cara, deverão
agir.
Há também os que
escolheram ser fatalistas e conformados que se acomodam, porque “não vale a
pena” ou porque “foi sempre assim”.
Mas agora, de entre uns
e outros, surgiram outro tipo de pessoas, as que estão absolutamente fascinadas
e orgulhosas, porque Portugal está na moda. Estes escolhem só ver aquilo que
querem ver…
E, vêem: que finalmente
estão a dar valor aos Portugueses, até já ganhámos o Festival! E, de repente,
aos seus olhos, Portugal passou a ser o melhor país do Mundo e os Portugueses o
melhor dos povos.
Nos maravilhosos dias de
sol, com a fantástica luz de Portugal, tudo lhes parece cor de rosa e perfeito…
Se passarem perto de um
bairro, onde há dezenas de pessoas desempregadas, com aqueles olhares, vazios
de esperança e plenos de desespero, olharão para o outro lado…
Se quase tropeçarem num
sem abrigo, clamarão em voz alta, que não querem é trabalhar…
Se virem uma idosa
magra e escanzelada, tremendo provavelmente de fome, limparão as suas
consciências, com aquela fantástica e altruística colaboração que deram a um
qualquer Banco Alimentar contra a fome…
Ontem foi dia de
Portugal, deste país sem dúvida maravilhoso, mas que tão mal governado tem
sido, onde o fosso entre ricos e pobres é cada vez mais profundo, onde há gente
a passar fome, onde a justiça não funciona, onde se dá primazia à banca em detrimento
da educação e da saúde…
Se a vida é, sem
dúvida, feita de escolhas, que escolhas têm feito os Portugueses para governar Portugal?
Portugal não pode ser
apenas um cartaz turístico, é preciso que as nossas escolhas se façam com a
consciência de que, só poderemos viver verdadeiramente bem, quando podermos
olhar pela janela, sem o receio de vislumbrar uma fila de pobres que esperam um
prato de sopa e um pão.
“Todos somos livres para fazer as nossas escolhas, mas
ficaremos prisioneiro das consequências.” (Pablo Neruda, frase adaptada)