Eucaliptos, Petróleo Verde, ou Chamas do Inferno?
Sei que sou uma leiga no
assunto. Afinal o que é que eu sei sobre florestas, eucaliptos e fogos?
Não sou engenheira florestal,
não tenho formação em ordenamento do território, mas sei, que o que se tem
feito ao nosso país é criminoso!
Na minha vida já passei por
muitos Verões, por muitas secas e assisti, mais de perto ou mais de longe, a
muitos incêndios.
O dia e a noite de ontem
fizeram-me lembrar dias de Verão da minha meninice, lembro-me bem daquelas
noites quentes, em que a vizinhança saía para a rua. O meu avô, sentava-se
sempre numa cadeira virada ao contrário, colocando os braços nas costas da cadeira
e ali passava o serão em amena cavaqueira. Muitas vezes viam-se no horizonte os
relâmpagos de uma trovoada que ecoava ao longe. Nessas noites de Verão, acordávamos
muitas vezes ao som da sirene dos bombeiros, a trovoada tinha deixado rasto…
Não obstante as alterações
climatéricas actuais, toda a vida existiram trovoadas secas de Verão, que
provocavam incêndios, só que as fontes de ignição e os materiais combustíveis eram
outros.
Lembra-me de grandes incêndios
de encostas de mato, que claro eram assustadores, como são todos os incêndios,
mas que eram geralmente dominados geograficamente. O eucalipto tem uma
combustão muito mais violenta e expansiva do fogo. Claro que a limpeza das
matas e a criação de caminhos de protecção são fundamentais, mas, até é curioso
ponderarmos sobre a questão dos matos, considerados sempre tão “culpados” na
boca dos comentadores televisivos, que se arvoram especialistas de tudo e mais
alguma coisa, mas que não sabem que nos eucaliptais, nem o mato cresce…
A diversidade da nossa
agricultura foi substituída pela mono cultura do eucalipto. Vamos por esse
Portugal fora e encontramos um verdadeiro mar verde, mas, verde de eucalipto. A
agricultura familiar e de subsistência tem vindo a ser substituída pelo
eucalipto, corta-se um pinhal, não se planta outro, coloca-se eucalipto,
fala-se em reflorestação, mas continua a supremacia do eucalipto…
Em 2017 a área ocupada por floresta em Portugal Continental é 39,0%, sendo a sua maioria
de eucaliptos… Em Janeiro deste ano o Governo através do senhor Primeiro
Ministro, afirmou que ia disponibilizar mais de 18 milhões de euros para
melhorar a produtividade na plantação de eucalipto.
“O
grande desafio que temos pela frente é a melhoria da produtividade na plantação
do eucalipto. A produtividade média que temos por hectare é baixíssima e temos
condições de a melhorar significativamente”, afirmou António Costa, na Figueira
da Foz, durante a sessão de assinatura de contratos de investimento de 125
milhões de euros com o grupo Altri." (in Observador 16-01-2017)
O eucalipto cresce rápido, as empresas
de celulose compram a madeira aos produtores, sem qualquer compromisso, ou
exigência de preservação ambiental. E, as nossas nascentes vão secando, os
nossos charcos, o nosso paul colocam-se em risco, enquanto os nossos
governantes se deixam manipular pelas empresas de celuloses, defendendo em
última análise, o interesse dos do costume, relevando a sua vantagem para a
economia (dos mesmos, claro…) e alegando que afinal o eucalipto é o nosso “petróleo
verde”.
Todos os anos, na ”época” dos
fogos se fala que tem que ser feito um plano estratégico, que tem que se mexer
no ordenamento do território, mas no Inverno tudo se esquece, até que novo
problema venha a surgir.
O ordenamento do território e
da floresta tem sido anárquico, e as directivas para o controlo da plantação de
eucalipto, continuam a defender apenas a aparente promessa de lucros rápidos,
não tendo em conta os riscos ambientais, nem, em última análise a segurança das
pessoas. Este não foi mais um grande incêndio, este tem sido um autentico
pesadelo. A perda de tantas vidas tem que ser honrada, com verdadeiro empenho
de quem nos governa, com a seriedade e o rigor nas efectivas medidas a serem
implementadas.