Amores de Verão
Mais um Agosto chegou ao fim,
mais um Verão de festas e euforias, praias e banhos. O país vive em Agosto uma
espécie de doping que energiza o pessoal até ao próximo Verão. Os emigrantes vêm
matar saudades das suas terras, das suas famílias, e como o tempo é escasso,
passam vorazes pelas muitas festas, onde encontram amigos e conhecidos pelo
menos uma vez por ano. Muitas vezes esta é a única relação que têm com o “seu”
país. País que se preocupa em dar-lhes festa, mas que se esquece de lhes dar
uma escola de qualidade para que os filhos mantenham uma ligação a Portugal,
com proficiência na Língua Portuguesa e reconhecimento da sua História. Um país
que tenha um Consulado, nos países onde residem, um Consulado que os acolha e
resolva os problemas com eficiência e eficácia, onde sintam apoio e confiança,
em vez de arrogância e sobranceria.
E os portugueses residentes? Em
Agosto as crianças não têm actividades, por isso a centralização das férias é
também uma necessidade.
Por tudo isto, as estradas,
ruas, praias, festas e feiras, parecem encher exponencialmente até meados do mês
e de repente tal como encheram, esvaziam e as terrinhas ficam mais tristes e
silenciosas, os que ficaram limpam e arrumam os vestígios das festas, na
esperança de que o ano passe depressa e que estejam todos vivos e de saúde para
o próximo “querido mês de Agosto”.
Também a vida política e partidária
vive a euforia de Verão. Nas autarquias aprimoram-se as organizações das festas
de Verão, não perdendo de vista que no próximo ano estarão em pré-campanha
eleitoral. Não há verba para arranjar esta ou aquela rua (só lá vivem meia dúzia
de velhos que já nem votam), não se pode esbanjar dinheiro com mão de obra e
meios ecológicos, para limpar balseiras e passeios, aplica-se glifosato, afinal
sempre assim fizeram, mas há sempre verbas para contratar o “melhor” e mais
caro artista que vem animar uma noite de Verão. As prioridades de escolha política
e estratégica serão sempre as que mais se salientem plasmadas em cartazes e revistas
municipais ou de freguesia.
Depois há as festas de Verão
dos partidos, os festivais e os mercados temáticos, enfim uma roda viva de
acontecimentos que “anestesiam” momentaneamente as gentes, pelo menos aquelas
que podem ter alguns momentos diferentes das suas rotinas e problemas, porque
há os outros, os outros que têm em cada dia os mesmos problemas, as mesmas
carências e dificuldades, quer financeiras, quer de saúde. Mas é Verão e tudo
parece menos negro e deprimente.
Amanhã começa Setembro, Portugal
acorda de novo, as escolas vão recomeçar, com as mesmas lacunas, com o mesmo desinvestimento
quer material, quer de formação e respeito pelos professores.
Amanhã começa Setembro, com os
mesmos problemas de desinvestimento e fragilização do Serviço Nacional de Saúde
que pareceram anestesiados durante o Verão (pelo menos nos meios mediáticos, mas
não a quem os sentiu na pele).
No Verão há férias Judiciais,
férias Parlamentares, mas terminadas as férias veremos mais eficácia da Justiça?
Acabará finalmente a impunidade? Serão castigados
e expropriados os que roubaram o dinheiro que faz tanta falta à economia do
país?
Não houve férias para os afectos,
abracinhos e selfies do nosso Presidente, que tudo “resolve” com as câmaras de
televisão atrás e muitos beijinhos e abraços. Até os estrangeiros querem uma selfie
com o Presidente, qual estrela de televisão. Entretanto a corrupção continua, a
cada passo aparece mais um caso, e como não há acção rápida da justiça, não há
efectiva dissuasão de a praticar e o atoleiro vai-se alargando.
Os banhos nas águas geladas do
interior não podem limpar as mãos de quem tem responsabilidades, os beijinhos e
carinhos não resolvem problemas. Como diz a sábia voz do povo “amores de Verão
ficam enterrados na areia”.
Maria Teresa Serrenho
31/08/2018