Cidadania, vítima dos “Profissionais de Palco”
Tenho dedicado algum do meu tempo e das minhas indispensáveis leituras, à análise da qualidade da democracia, versus, o generalizado desencanto democrático das novas gerações, um registo que está a deixar marcas indeléveis, sobretudo para aqueles que acreditam na democracia como um modelo de regime com o qual se identificam e desejam preservar.
Acreditar nos jovens é ter
esperança num novo amanhã.
Os “Profissionais de Palco”, mais
preocupados com os índices de popularidade da sua imagem e das mordomias com
que politicamente se governam, sem governar, do que propriamente com a
qualidade da democracia, raramente reconhecem nos Jovens, a força que deles
emerge, as conquistas alcançadas, ou a sua capacidade para a luta, ícones que a
história não esquece, para aqui relembrar o célebre “maio de 1968” que, apesar
de decorridas quase cinco décadas, parece encontrar nas sociedades de hoje
razões para reflexão.
Ignorar vozes de referência como
a do Papa Francisco que recentemente se dirigiu aos Jovens para os motivar a denunciar
as forças que querem silenciar as novas gerações.
Ignorar as manifestações de
revolta que, em Washington, levaram à rua centenas de milhar de americanos em
solidariedade com os jovens de Parkland, sem esquecer as centenas de
iniciativas agendadas para os USA e resto do mundo, contra a venda de armamento.
Ignorar a voz da jovem Emma
González, de apenas 18 anos, ícone viral, não apenas de uma consternação coletiva, mas também de uma
inquestionável coragem, que enalteço pelo confronto ao poder político e pela advertência que deixou registada para o futuro, das quais relevo nas suas parcas mas sentidas palavras: “está na hora de as vítimas se tornarem os
agentes das mudanças que necessitamos... os jovens vão se envolver cada vez
mais na política, porque a regulamentação sobre o acesso às armas tem que
mudar”, razões mais que
suficientes para elevar as nossas expectativas e ter confiança de que os Jovens
irão lutar por um amanhã melhor.
Reerguer a Democracia pela voz da
cidadania é outro imperativo nacional.
A qualidade da democracia,
fundamentalmente da representação política, foi-se degradando ao longo do
tempo, por razões diversas, entre as quais destaco o decréscimo da participação
eleitoral, uma mudança de paradigma em resultado da insatisfação dos cidadãos
com os mecanismos tradicionais de participação, da espontaneidade que resulta das
novas formas de intervenção dos cidadãos na esfera pública, redes sociais,
internet ou mobilizações por sms, ou seja, uma nova forma de os cidadãos se
relacionarem com a política.
Os “Profissionais de Palco”, engenhosos
oportunistas, conhecedores desta nova realidade, vivem no conforto que a
ausência de participação política lhes proporciona e à sombra deste modelo
redutor de representação, representam-se a si próprios e aos interesses instalados, que representam, sob a capa de uma governação democrática, impoluta, ao serviço
do bem público e dos cidadãos.
Vivemos sob um modelo
ficcionado de governação e por isso, subscrevo na íntegra a visão de Clara Ferreira Alves vertida
num artigo recentemente publicado no Jornal “Expresso” sob o título “Este é o
maior Fracasso da Democracia Portuguesa!!!!!!!!!!”
“Portugal, tem um défice de
responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice
financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos
da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os
portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo
"normal" e encolhem os ombros. Por uma vez gostava que em Portugal
alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado”.
Num momento crucial da vida
democrática, em que os cidadãos são recorrentemente “convidados” a contribuir
com os seus impostos para a
recapitalização de bancos “falidos”, torna-se imperativo nacional reerguer a
Democracia em nome da Cidadania, apelar a uma maior participação eleitoral que
dignifique a representação política, que garanta aos cidadãos as suas
liberdades, exercidas em cidadania pela convivência e tolerância, em que as
decisões políticas estejam enquadradas num clima de debate e confronto de
ideias, em que os diferentes poderes (legislativo, executivo e judiciários)
atuem de forma independente, em suma, uma sociedade plural onde seja possível “aos governados defender-se da opressão dos
seus governantes e de igual forma defender cada parte da sociedade da injustiça
da outra parte”.
Em Portugal, necessário e urgente se torna, reerguer
a democracia pela via da cidadania, uma cidadania ativa e participativa, em que
cada cidadão assuma como imperativo nacional acabar com governações teatralizadas
que permitem aos “Profissionais de Palco” repartir entre si os recursos de
todos nós, porque essa sim, é sem margem
para dúvida, a panaceia que alimenta o “monstro”, aquela que, pela passividade
dos cidadãos, interiorizou na sociedade a ideia de que existe um corte dos
cidadãos com a política.
Em nome da cidadania, faço minhas
as palavras da jovem Emma González: “está
na hora de as vítimas se tornarem os agentes das mudanças que necessitamos...”
VAMOS, em frente!!!
30/03/2018
Jorge Amaro