Janela da Frente - "HÁ DIAS E DIAS" - Maria Teresa Serrenho
Há dias e dias
Curiosamente e por coincidência,
hoje, Dia da Mulher, coube-me a mim “abrir” esta Janela da Frente. Sendo eu
mulher, sinto-me quase obrigada a falar deste tema no meu artigo de opinião. Não
será o primeiro texto de opinião que escrevo sobre o assunto, já escrevi várias
vezes sobre esta comemoração e como não mudei de opinião, vou provavelmente
repetir-me, peço desculpa por isso.
Não consigo entender a euforia destes
festejos mais ou menos folclóricos que se realizam à volta desta efeméride.
Tenho dificuldade em compreender aquela felicidade momentânea e passageira,
mascarada de liberdade (condicional), onde se chega a dar aso a excessos
irracionais e pouco dignificantes da condição de Mulher.
Os dias mundiais existem para
chamar à atenção para causas, para colocar na agenda problemas e assuntos
fracturantes, quer sociais, quer ambientais.
O Dia da Mulher existe para que
se pense no seu papel no Mundo, para que se denunciem injustiças e maus tratos,
mutilações, falta de liberdade, desigualdades e discriminações.
Por isso no dia da Mulher, neste
dia da Mulher em pleno século XXI, neste dia em que, se olharmos ao redor nos
sentimos ameaçados por todos os lados, em que sentimos o risco em que está a
nossa casa, a única que temos e que é de todos, o planeta Terra, onde vemos
crianças abandonadas, vitimas de uma guerra de homens gananciosos e fanáticos.
Nestes dias em que sentimos constantemente ameaçada a democracia, pela
inoperância da justiça, pela corrupção e abusos de poder. Não consigo
compreender que neste mundo de homens, neste mundo em que há um efectivo
retrocesso a pender sobre direitos e igualdade de
género, onde anualmente são mortas pelos companheiros, dezenas de mulheres, haja
mulheres que em vez de se manifestarem e denunciarem situações de desigualdade
e discriminização, fiquem felizes porque “pelo menos têm um dia delas”.
Esta manifestação
de um preocupante conformismo tende a replicar as desigualdades gritantes que encontramos
nas sociedades, mesmo nas ditas civilizadas como a nossa.
Muitas vezes me
tenho questionado a mim mesmo: Se há mais mulheres que homens, se há mais
mulheres com habilitações académicas superiores, se as mulheres têm provado que
são tão capazes como os homens, porque é que continuam a ter um papel
secundário na nossa sociedade? Porque é que não são mais interventivas? Onde
estão afinal as mulheres?
Porque é que
continuamos a ter predominância de homens nos comentadores das televisões, nas
autarquias, na Assembleia, no Governo?
Talvez seja por
falta de oportunidades e porque o sistema se auto mantem. Mas outra coisa é a
participação cívica, onde a iniciativa de participação é um acto de escolha
pessoal.
Porque é que temos
muito mais homens que mulheres nas Associações, nomeadamente na Frente Cívica?
Porque é que tão poucas participam em encontros e debates? Porque é que não são
mais interventivas?
Todos e todas temos
a percepção de que as coisas têm que mudar urgentemente, sentimos no nosso quotidiano
que a mudança é hoje, é agora, por isso é tempo de agir. Qualquer dia pode ser
dia de diversão com amigas ou amigos e não apenas no Dia da Mulher. Há que
deixar essa ilusória liberdade de um dia diferente, esse dia que pode afinal ser
quando quiserem e não quando os homens determinam.
Ser Mulher é muito
mais do que ser companheira e mãe (por mais que esses papeis nos dignifiquem e
realizem). As mulheres são muito mais fortes e determinadas do que nos querem
fazer. Temos que assumir a nossa responsabilidade com a vida, nós temos um
papel na sociedade e na política. As mulheres pensam e agem de maneira
diferente e são capazes de se superar quando precisam de defender as suas
crias, por isso e sobretudo pelo futuro dos nossos descendentes, deixo um
desafio: ousemos ter um papel mais activo na construção de uma sociedade mais
honesta, mais justa e equilibrada, para que todos os dias sejam dias da
Humanidade!
Maria Teresa
Serrenho
08/03/2018