quinta-feira, 8 de março de 2018

Janela da Frente - "HÁ DIAS E DIAS" - Maria Teresa Serrenho



Há dias e dias 


Curiosamente e por coincidência, hoje, Dia da Mulher, coube-me a mim “abrir” esta Janela da Frente. Sendo eu mulher, sinto-me quase obrigada a falar deste tema no meu artigo de opinião. Não será o primeiro texto de opinião que escrevo sobre o assunto, já escrevi várias vezes sobre esta comemoração e como não mudei de opinião, vou provavelmente repetir-me, peço desculpa por isso.


Não consigo entender a euforia destes festejos mais ou menos folclóricos que se realizam à volta desta efeméride. Tenho dificuldade em compreender aquela felicidade momentânea e passageira, mascarada de liberdade (condicional), onde se chega a dar aso a excessos irracionais e pouco dignificantes da condição de Mulher.


Os dias mundiais existem para chamar à atenção para causas, para colocar na agenda problemas e assuntos fracturantes, quer sociais, quer ambientais.


O Dia da Mulher existe para que se pense no seu papel no Mundo, para que se denunciem injustiças e maus tratos, mutilações, falta de liberdade, desigualdades e discriminações.


Por isso no dia da Mulher, neste dia da Mulher em pleno século XXI, neste dia em que, se olharmos ao redor nos sentimos ameaçados por todos os lados, em que sentimos o risco em que está a nossa casa, a única que temos e que é de todos, o planeta Terra, onde vemos crianças abandonadas, vitimas de uma guerra de homens gananciosos e fanáticos. Nestes dias em que sentimos constantemente ameaçada a democracia, pela inoperância da justiça, pela corrupção e abusos de poder. Não consigo compreender que neste mundo de homens, neste mundo em que há um efectivo retrocesso a pender sobre direitos e igualdade de género, onde anualmente são mortas pelos companheiros, dezenas de mulheres, haja mulheres que em vez de se manifestarem e denunciarem situações de desigualdade e discriminização, fiquem felizes porque “pelo menos têm um dia delas”.


Esta manifestação de um preocupante conformismo tende a replicar as desigualdades gritantes que encontramos nas sociedades, mesmo nas ditas civilizadas como a nossa.


Muitas vezes me tenho questionado a mim mesmo: Se há mais mulheres que homens, se há mais mulheres com habilitações académicas superiores, se as mulheres têm provado que são tão capazes como os homens, porque é que continuam a ter um papel secundário na nossa sociedade? Porque é que não são mais interventivas? Onde estão afinal as mulheres?


Porque é que continuamos a ter predominância de homens nos comentadores das televisões, nas autarquias, na Assembleia, no Governo?


Talvez seja por falta de oportunidades e porque o sistema se auto mantem. Mas outra coisa é a participação cívica, onde a iniciativa de participação é um acto de escolha pessoal.


Porque é que temos muito mais homens que mulheres nas Associações, nomeadamente na Frente Cívica? Porque é que tão poucas participam em encontros e debates? Porque é que não são mais interventivas?


Todos e todas temos a percepção de que as coisas têm que mudar urgentemente, sentimos no nosso quotidiano que a mudança é hoje, é agora, por isso é tempo de agir. Qualquer dia pode ser dia de diversão com amigas ou amigos e não apenas no Dia da Mulher. Há que deixar essa ilusória liberdade de um dia diferente, esse dia que pode afinal ser quando quiserem e não quando os homens determinam.


Ser Mulher é muito mais do que ser companheira e mãe (por mais que esses papeis nos dignifiquem e realizem). As mulheres são muito mais fortes e determinadas do que nos querem fazer. Temos que assumir a nossa responsabilidade com a vida, nós temos um papel na sociedade e na política. As mulheres pensam e agem de maneira diferente e são capazes de se superar quando precisam de defender as suas crias, por isso e sobretudo pelo futuro dos nossos descendentes, deixo um desafio: ousemos ter um papel mais activo na construção de uma sociedade mais honesta, mais justa e equilibrada, para que todos os dias sejam dias da Humanidade!



Maria Teresa Serrenho


08/03/2018