Nesta sociedade de egoísmo, em que as pessoas antes de
agirem pensam primeiro em si próprias, pensam no que podem ganhar ou no que têm
medo a perder. Chegam por vezes a ter medo de perder, mesmo, aquilo que não
têm, nem nunca virão a ter.
Nesta sociedade em que é cada
um por si, em que a ambição de querer ter e ser mais do que os outros, não os
deixa olhar à sua volta, nem ver as injustiças, as desigualdades sociais, a
corrupção, o compadrio, neste marasmo em que parece valer tudo.
Nesta sociedade em que
vivemos, o individualismo não é uma opção consciente, estas atitudes não são
tomadas por convicção ou ideologia. Estas pessoas têm, muitas vezes, apenas a
ambição de vir a ter um empregozinho, ou um estágio miserável, e para o conseguirem,
vão bajulando e idolatrando os representantes do “sistema”.
Outros apesar de conscientes
do que se passa na sociedade, mesmo afirmando-se revoltados com a corrupção,
compadrio e injustiça, não arriscam dar a cara, ou participar em qualquer acção
de denuncia ou de cidadania interventiva, afinal “o que é que podem ganhar com isso? Nem vale a pena, vai ficar tudo na mesma”.
E nesta sociedade onde não se respeitam os outros como
iguais, as pessoas vão perdendo o respeito pelos outros e por si próprias.
Quantas têm que diariamente conviver com situações que as
revoltam interiormente, mas com as quais têm que pactuar, para manterem uma
situação de sobrevivência, violentando-se a si próprias ao conformarem-se e ao
aceitarem pacificamente pactuar com humilhações constantes e verdadeiros
assaltos à sua inteligência.
Esses recalcamentos permanentes destroem a autoestima e
muitas vezes seguem-se as depressões e os ansiolíticos, as doenças somatizadas,
provocadas pelo stress, pelo desânimo e sobretudo pela falta de esperança.
Valerá então ou não apena agirmos, não nos conformarmos?
Cabe a cada um de nós decidir. Decidirmos as nossas opções,
decidirmos se queremos ir ou ficar, se queremos olhar ou fechar os olhos, se
queremos participar ou ficar a ver. As decisões são efectivamente solitárias e
individuais, por isso têm tanto peso nas nossas vidas.
As decisões não são fáceis, o sentimento de
responsabilidade e consciência cívica, o sentido de justiça e a defesa da
liberdade, impulsionam alguns a escolher outros caminhos diferentes do
“sistema”, ousando estar do outro lado.
O que é que ganhamos quando não nos conformamos, quando
decidimos agir, quando damos a cara na defesa dos princípios em que
acreditamos?
Ganhamos sobretudo respeito. Respeito por nós próprios, mas
também o respeito dos outros, daqueles que se escondem atrás de um qualquer
anonimato, por terem medo de dar a cara. Ganhamos respeito até mesmo daqueles a
quem aparentemente atingimos, por denunciarmos as suas acções e
comportamentos. Ganhamos o sentimento de
liberdade e só pode ser verdadeiramente livre, quem pode pensar “fora da
caixa”, quem consegue libertar-se das influências estereotipadas da sociedade.
Só é verdadeiramente livre o que consegue aguentar a pressão e ser coerente
consigo mesmo.
“Vemos ouvimos e lemos, não podemos ignorar” …
Temos que ser todos e cada um de nós a fazer alguma coisa para mudar o que está
mal, temos como cidadãos conscientes, de exigir mais, estar atentos, denunciar,
agitar e desassossegar o marasmo instalado. Para isso temos que nos dispor a
dar mais do nosso tempo e da nossa capacidade de participação para o bem comum,
deixando a indolência da lamúria e sendo mais interventivos, mais activos, pois
quando conseguimos mudar pequenas coisas à nossa volta, conseguiremos
efectivamente mudar o país.
Alguns dizem
que só com uma revolução o conseguiremos. Precisamos mesmo de fazer uma
revolução. A revolução de mentalidades!