Balanço de Abril
O regime democrático saído do
25 de Abril está moribundo. Os direitos conquistados em 1974 parecem garantidos,
como a liberdade de expressão e reunião. Mas a democratização social e
económica, tantas vezes prometida, está ainda muito longe de ser adquirida.
O poder é exercido não pelo
povo, mas pelos grandes grupos económicos, com predomínio dos financeiros, dos
construtores e promotores imobiliários. As eleições não geram verdadeiras
alternativas democráticas, apenas permitem a alternância no poder dos maiores
partidos políticos. A distribuição de benesses e “tachos” é prática generalizada.
A classe política goza, em democracia, de privilégios bem maiores do que no
tempo da ditadura fascista.
O “combate eficaz à corrupção”,
que fazia parte no programa do Movimento das Forças Armadas como uma das missões
de implementação imediata, nunca ganhou força. Pelo contrário, o regime organizou-se
de forma a promover a corrupção. Os escândalos sucederam-se com prejuízos incalculáveis:
Expo 98, Euro 2004, BPN, submarinos, Freeport, parcerias público-privadas, BES;
Caixa Geral de Depósitos… O poder local foi capturado por empreiteiros
financiadores dos partidos, o urbanismo destruiu e continua a destruir a
paisagem e o ambiente.
A descolonização, outro dos
desígnios de Abril, permitiu a independência das ex-colónias. Mas gerou, com a
cumplicidade dos governos portugueses, o sistema corrupto angolano de José
Eduardo dos Santos. Uma descolonização desastrada provocou anos de guerra e fome
em Angola, Guiné, Timor e Moçambique.
Em termos económicos, foi o
descalabro. Portugal poderia ser hoje um país desenvolvido, com uma economia estruturada,
mas o tecido produtivo é muito débil. Apesar da enxurrada de fundos europeus a
que o país teve acesso com a integração na União Europeia. Esses apoios foram
maioritariamente desviados pelos circuitos da corrupção; ou esbanjados...
Ao fim de quarenta e três anos,
a vida em Portugal poderia ser tranquila, as famílias deveriam viver com
conforto e dignidade. Mas, para a maioria, o maior objectivo já nem é viver com
dignidade, é apenas sobreviver… sem fome!