terça-feira, 18 de abril de 2017

Janela da Frente - BALANÇO DE ABRIL - Paulo de Morais



Balanço de Abril

O regime democrático saído do 25 de Abril está moribundo. Os direitos conquistados em 1974 parecem garantidos, como a liberdade de expressão e reunião. Mas a democratização social e económica, tantas vezes prometida, está ainda muito longe de ser adquirida.
O poder é exercido não pelo povo, mas pelos grandes grupos económicos, com predomínio dos financeiros, dos construtores e promotores imobiliários. As eleições não geram verdadeiras alternativas democráticas, apenas permitem a alternância no poder dos maiores partidos políticos. A distribuição de benesses e “tachos” é prática generalizada. A classe política goza, em democracia, de privilégios bem maiores do que no tempo da ditadura fascista.
O “combate eficaz à corrupção”, que fazia parte no programa do Movimento das Forças Armadas como uma das missões de implementação imediata, nunca ganhou força. Pelo contrário, o regime organizou-se de forma a promover a corrupção. Os escândalos sucederam-se com prejuízos incalculáveis: Expo 98, Euro 2004, BPN, submarinos, Freeport, parcerias público-privadas, BES; Caixa Geral de Depósitos… O poder local foi capturado por empreiteiros financiadores dos partidos, o urbanismo destruiu e continua a destruir a paisagem e o ambiente.
A descolonização, outro dos desígnios de Abril, permitiu a independência das ex-colónias. Mas gerou, com a cumplicidade dos governos portugueses, o sistema corrupto angolano de José Eduardo dos Santos. Uma descolonização desastrada provocou anos de guerra e fome em Angola, Guiné, Timor e Moçambique.
Em termos económicos, foi o descalabro. Portugal poderia ser hoje um país desenvolvido, com uma economia estruturada, mas o tecido produtivo é muito débil. Apesar da enxurrada de fundos europeus a que o país teve acesso com a integração na União Europeia. Esses apoios foram maioritariamente desviados pelos circuitos da corrupção; ou esbanjados...
Ao fim de quarenta e três anos, a vida em Portugal poderia ser tranquila, as famílias deveriam viver com conforto e dignidade. Mas, para a maioria, o maior objectivo já nem é viver com dignidade, é apenas sobreviver… sem fome!