terça-feira, 4 de abril de 2017

Janela da Frente - PARTIRAM MUITOS... DEMASIADOS!...- Maria Teresa Serrenho



Partiram muitos...demasiados!...


Quando se aproxima a hora da despedida, sempre teimamos em dizer que não será um adeus, que será apenas um até logo, mas, infelizmente a vida já me mostrou muitas vezes que assim não é.

A distância e a vida afastam as pessoas.

Quem parte conhecerá outras pessoas, outras realidades, terá outras rotinas, que a pouco e pouco irão afastando as suas vidas, das nossas vidas.

É para mim um "dejá vu", já vi partir o meu filho, muitos amigos, muitos conhecidos. Quantas vezes não tive também vontade de partir?!

Mas fiquei, fiquei sempre, neste país, nesta cidade que me viu nascer, nestas ruas que me conhecem de cor, nas pedras daqueles pavilhões, onde aprendi as primeiras letras, na sombra daquelas árvores que me viram baloiçar, as mesmas árvores que protegeram os nossos beijos de namorados...

Partiram muitos, demasiados, uns impulsionados pelo sonho de uma vida melhor, pela aventura, pela procura de novas experiências. Esses que vão e vêm, aprendem, crescem, trarão novas ideias, novos ideais, fazem do Mundo um lugar mais pequeno, levam alguma coisa de nós Portugueses, trarão novas coisas de outras culturas. Numa perspectiva de Universalidade, como só os Portugueses sabem ter (como dizia Fernando Pessoa, citado por Paulo de Morais).

Mas depois há os outros, os inocentes, esses foram obrigados a partir, uns mais velhos, outros mais novos, com alguma esperança na bagagem, mas muita raiva no coração.

São vitimas de gente que se julga dona de tudo, de gente que se considera superior aos outros, de gente que usa o poder que recebeu do povo, para se governar, a si e aos amigos, em vez de governar o país e o bem comum, gente que é capaz de amesquinhar, de destruir, de banalizar aquilo que deveria ser especial e único.

Mas o país não é feito apenas dessa gente, desses seres pseudo-superiores que desprezam e tentam humilhar quem não siga e acompanhe o seu "superior" pensamento. Portugal também é feito de pessoas que trabalham arduamente, de pessoas simples que amam o seu país, a sua terra e que confundem muitas vezes, o amor que lhes têm, com os "poderosos" que a "governam", considerando assim que não podem discordar deles, têm mesmo medo de que isso seja trair a sua terra, o seu país, afinal são eles que mandam, que têm o poder!

Portugal fica mais pobre, um país é feito dos que chegam e dos que estão, a distância dos que vão, afasta-os deste coração pulsante do país e vão torná-lo, com certeza, mais pobre.

Nesta época de amigos virtuais e de cidadãos do Mundo, as pessoas sentem cada vez menos a apropriação das suas terras, talvez por isso se sinta cada vez mais que as cidades estão desumanizadas e vazias, de gente que more, que sinta, que diga: “a minha rua!", "a minha cidade", “a minha terra”!

Não queria mesmo vê-los partir!

Não posso deixar de ter este sentimento de perda e de frustração por Portugal não ter conseguido manter as condições para cativar, aqueles que poderiam ficar.

"Os homens deixaram de ter tempo para conhecer o que quer que seja. Compram as coisas já feitas aos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens deixaram de ter amigos. Se queres um amigo, cativa-me! (in "Principezinho, Saint-Exupéry).

Que o "laço" que ainda os liga ao país seja mais forte que a distância e as contingências da vida, que possam ter a verdadeira liberdade de escolha de voltar ou partir, sem se sentirem empurrados, sem se sentirem estrangeiros na sua terra!
Maria Teresa Serrenho