domingo, 16 de abril de 2017

Janela da Frente - SEM FATALISMO, NEM CONFORMISMO...- Maria Teresa Serrenho






Sem Fatalismo, Nem Conformismo...

Mais uma Páscoa que passou, mais umas férias para uns, para os que puderam… para outros, mais um aperto, mais um contar de tostões, porque os tão apregoados sucessos nas finanças do país, não se traduzem por uma efectiva melhoria nas finanças das famílias.
Apesar do nosso clima generoso, deste sol fantástico que nos brindou nesta semana de Páscoa, sente-se no ar um sentimento de insegurança, a política internacional, as guerras latentes, as ameaças de ditaduras emergentes, temos hoje uma sociedade com medo, onde o sentimento de impunidade face aos poderosos, faz duvidar da Justiça, onde a mentira, a corrupção, o caciquismo, o compadrio e a falta de escrúpulos estão instalados.
Estamos no mês de Abril, no mês em que Portugal comemora mais um ano da revolução de 1974, nessa altura sentiu-se a natural euforia do povo, face a uma liberdade e democracia prometida, reagindo numa ânsia de participação cívica. Mas o povo confiou, o povo pensou que aqueles que elegia livremente os iam efectivamente representar e defender. Infelizmente muitos dos eleitos traíram essa confiança e deram origem a que fossem completamente adulterados os ideais de Abril e que os interesses do grande capital, se reerguessem sem escrúpulos, nem pudor.
Até o significado das palavras, parece hoje já não ter a mesma força, a mesma energia, por tanto serem usadas por gente que esvazia o seu sentido, na tentativa de confundirem os incautos, que cada vez têm mais dificuldade em acreditar em alguém, ou em alguma coisa.
Foram as políticas dessa gente, que se considera uma casta superior, que levaram a este caos em que puseram o Mundo, onde a ética e a dignidade foram esquecidas, em nome de um progresso desregulado e devastador, em que se salva o grande capital e se deixam morrer pessoas por falta de dinheiro na saúde, em que as prioridades são dúbias e pouco claras…
É confrangedor constatar que agora as pessoas já nem reclamam, nem protestam, parece ter-se instalado um conformismo preocupante, um fatalismo lamecha de quem aceita um destino de infortúnios e retrocessos.
Não reclamam, nem reivindicam de forma a exigirem direitos ou reclamar maus serviços ou faltas de competência. Não têm coragem para enfrentar a responsabilidade de afirmar ou escrever, que algo está mal, que há coisas que têm efectivamente que mudar. Não o fazem por medos, ou porque consideram não valer a pena, já que a justiça é inoperante e geralmente, forte com os fracos e fraca com os fortes.
Mas, nos cafés e nos encontros de amigos, continuam a ouvir-se lamentos, queixumes e profetas da desgraça que só dizem que está mal o que os outros fazem, mas que se acomodam vendo um desfilar de erros, aberrações, escândalos, vigarices, atentados contra a natureza ou contra a sociedade. Erros que quantas vezes são irreversíveis e comprometem para sempre o futuro das nossas vidas, das nossas terras, do nosso país.
Não podem ser as mesmas políticas e os mesmos políticos a modificar aquilo que eles próprios criaram, a corrigir os erros que eles próprios fizeram.
É preciso, imperioso e urgente, que haja novos actores, e que todos e cada um de nós se sinta responsável pela mudança que é necessária. Só gente diferente pode agir de modo diferente, gente que se preocupe com o BEM COMUM e não com a sua “agendinha” pessoal e dos seus apaniguados. Gente que sinta que a nobre missão de governar, é um serviço para os outros e pelos outros e não uma forma de se “governar” e auto promover. É tempo de nos envolvermos, não nos problemas e na crise, mas sobretudo nas soluções.
Como frisou o Papa Francisco, citado pelo site "Vatican Insider”: Um cidadão responsável não pode «fazer de Pilatos, lavar as mãos»: «Devemos implicar-nos na política, porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, visto que procura o bem comum».
Estamos em ano de eleições autárquicas, é necessário que todos e cada um se sinta responsável, deixe de olhar apenas para si próprio e para os seus problemas pessoais e se envolva com altruísmo e responsabilidade na vida que vai passando a seu lado, na vida da sua comunidade, da sua terra, do seu bairro, do seu país, porque mesmo que afirme todos os dias, que não quer saber da política, a política irá sempre condicionar a sua vida, os seus projectos e até os seus sonhos!

Maria Teresa Serrenho