Sem Fatalismo, Nem Conformismo...
Mais uma Páscoa que passou, mais
umas férias para uns, para os que puderam… para outros, mais um aperto, mais um
contar de tostões, porque os tão apregoados sucessos nas finanças do país, não
se traduzem por uma efectiva melhoria nas finanças das famílias.
Apesar do nosso clima generoso,
deste sol fantástico que nos brindou nesta semana de Páscoa, sente-se no ar um
sentimento de insegurança, a política internacional, as guerras latentes, as ameaças
de ditaduras emergentes, temos hoje uma sociedade com medo, onde o sentimento
de impunidade face aos poderosos, faz duvidar da Justiça, onde a mentira, a
corrupção, o caciquismo, o compadrio e a falta de escrúpulos estão instalados.
Estamos no mês de Abril, no
mês em que Portugal comemora mais um ano da revolução de 1974, nessa altura sentiu-se
a natural euforia do povo, face a uma liberdade e democracia prometida, reagindo
numa ânsia de participação cívica. Mas o povo confiou, o povo pensou que
aqueles que elegia livremente os iam efectivamente representar e defender.
Infelizmente muitos dos eleitos traíram essa confiança e deram origem a que
fossem completamente adulterados os ideais de Abril e que os interesses do
grande capital, se reerguessem sem escrúpulos, nem pudor.
Até o significado das palavras,
parece hoje já não ter a mesma força, a mesma energia, por tanto serem usadas
por gente que esvazia o seu sentido, na tentativa de confundirem os incautos,
que cada vez têm mais dificuldade em acreditar em alguém, ou em alguma coisa.
Foram as políticas dessa
gente, que se considera uma casta superior, que levaram a este caos em que
puseram o Mundo, onde a ética e a dignidade foram esquecidas, em nome de um progresso desregulado e devastador, em
que se salva o grande capital e se deixam morrer pessoas por falta de dinheiro
na saúde, em que as prioridades são dúbias e pouco claras…
É confrangedor constatar que
agora as pessoas já nem reclamam, nem protestam, parece ter-se instalado um
conformismo preocupante, um fatalismo lamecha de quem aceita um destino de
infortúnios e retrocessos.
Não reclamam, nem reivindicam de
forma a exigirem direitos ou reclamar maus serviços ou faltas de competência.
Não têm coragem para enfrentar a responsabilidade de afirmar ou escrever, que
algo está mal, que há coisas que têm efectivamente que mudar. Não o fazem por
medos, ou porque consideram não valer a pena, já que a justiça é inoperante e
geralmente, forte com os fracos e fraca com os fortes.
Mas, nos cafés e nos encontros
de amigos, continuam a ouvir-se lamentos, queixumes e profetas da desgraça que
só dizem que está mal o que os outros fazem, mas que se acomodam vendo um
desfilar de erros, aberrações, escândalos, vigarices, atentados contra a
natureza ou contra a sociedade. Erros que quantas vezes são irreversíveis e
comprometem para sempre o futuro das nossas vidas, das nossas terras, do nosso
país.
Não
podem ser as mesmas políticas e os mesmos políticos a modificar aquilo que eles
próprios criaram, a corrigir os erros que eles próprios fizeram.
É
preciso, imperioso e urgente, que haja novos actores, e que todos e cada um de
nós se sinta responsável pela mudança que é necessária. Só gente diferente pode
agir de modo diferente, gente que se preocupe com o BEM COMUM e não com a sua “agendinha”
pessoal e dos seus apaniguados. Gente que sinta que a nobre missão de governar,
é um serviço para os outros e pelos outros e não uma forma de se “governar” e auto promover. É tempo de nos envolvermos, não nos problemas e na crise,
mas sobretudo nas soluções.
Como frisou o Papa Francisco,
citado pelo site "Vatican Insider”: Um cidadão responsável não pode «fazer de Pilatos, lavar as mãos»: «Devemos implicar-nos na política,
porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, visto que procura
o bem comum».
Estamos em ano de eleições
autárquicas, é necessário que todos e
cada um se sinta responsável, deixe de olhar apenas para si próprio e para os
seus problemas pessoais e se envolva com altruísmo e responsabilidade na vida
que vai passando a seu lado, na vida da sua comunidade, da sua terra, do seu
bairro, do seu país, porque mesmo que afirme todos os dias, que não quer saber
da política, a política irá sempre condicionar a sua vida, os seus projectos e
até os seus sonhos!
Maria Teresa Serrenho