Ecos de Abril...
No dia 25 de Abril participei nas
comemorações dos 43 anos da revolução.
Hoje a maioria dos participantes
destas comemorações nasceram já depois da revolução. Foi com essa perspectiva
que fiquei ao observar o desfile na Avenida da Liberdade.
À frente da manifestação iniciada
com uma chaimite e atrás seguiam milhares de cidadãos anónimos,
com palavras de ordem escritas em cartazes da sua autoria, manifestando o
descontentamento daquilo que não foi cumprido.
Retive que a maioria dessas
criticas eram dirigidas à justiça.
Mais atrás estavam os principais
sindicatos, reivindicando e com palavras de ordem escritas nas suas faixas,
alertando para a precariedade dos trabalhadores e as principais reivindicações
que costumam discutir nas reuniões de concertação social.
Intervalando com os sindicatos vinham
as juventudes partidárias, mais atrás outras corporações manifestando
repetidamente as diversas injustiças perpetradas também noutros países onde a
dignidade humana é posta em causa sistematicamente. Caso do Brasil, do
Curdistão e outros povos oriundos de outros lugares, apelando à paz, justiça,
segurança, liberdade.
Actualmente o 25 de Abril também
se globalizou e é palco onde se expressam outros seres humanos injustiçados e
humilhados pêlos lideres déspotas mundiais.
A indiferença campeia, os
governos continuam a distanciarem-se com o seu autismo peculiar, preferindo
privilegiar os seus interesses particulares e dos apaniguados em detrimento do
activismo. É por tudo isto que a atimia é crescente revelando-se cada vez mais
como síndroma perturbador na percepção do cidadão. A sua cidadania vai esmorecendo
ao verificar que não é ouvido e correspondido nas suas pretensões legitimas.
A democracia participativa é
colocada em causa e a representativa começa a ser “robotizada”.
Esta manifestação popular
evocatória do 25 de Abril continua a ser a mais genuína prova de vida da
Liberdade. A mobilização espontânea do povo que se ergue, continuará a dar a
garantia que existirão sempre alguns com coragem para se erguerem.
Esta é a convicção de quem teve a
felicidade de participar activa e operacionalmente no 25 de Abril de 1974, contribuindo
então, com a generosidade, coragem e pureza dos seus vinte anos.
Luís Serrenho