domingo, 2 de abril de 2017

Janela da Frente - UMA NOVA DIPLOMACIA - Paulo de Morais



Uma Nova Diplomacia
A diplomacia portuguesa não serve o país. Os embaixadores continuam a viver com a pompa e circunstância, reminiscências dos tempos coloniais. Os diplomatas, na sua maioria, constituem uma classe obsoleta, uma verdadeira brigada de “mão fria” de tanto circularem de copo gelado na mão¸ de recepção em cocktail. Divertem-se com os meios públicos, chegando, em alguns casos, a utilizar as embaixadas apenas para festarolas.
Na última década, para tentar justificar a sua existência, a diplomacia mascarou-se: os embaixadores passaram a impulsionadores da internacionalização da actividade económica. Esperar-se-ia que esta consistisse na promoção de produtos nacionais, bem como à abertura de condições à instalação de empresas nos diversos mercados. Mas esta nova diplomacia tem sido apenas a utilização de embaixadas como mais um instrumento da promiscuidade entre a política e os negócios. Neste novo modelo, as empresas protegidas do regime prosperaram além-fronteiras. Com José Sócrates, a J.P. Sá Couto e o Grupo Lena ganharam negócios na América Latina. Já no consulado de Passos Coelho, Paulo Portas promovia em Angola a Mota Engil, grupo empresarial para o qual acabou por ir trabalhar. E a soleníssima viagem de Cavaco Silva à China teve como principal feito a celebração de um acordo entre o China Development Bank e… o BES de Ricardo Salgado. Já com o actual governo, tem havido umas tentativas tíbias de mudança do paradigma, em particular no apoio aos emigrantes. Mas sabe a pouco.
A diplomacia tem de revolucionar-se. Urge colocar definitivamente as embaixadas e consulados ao serviço de Portugal e, muito em particular, da comunidade emigrante. Deve disponibilizar serviços públicos simplificados e descentralizados, proporcionar pontos de apoio aos portugueses que viajam - empresários, estudantes ou turistas - sem qualquer tipo de discriminação.
Para além disso, a diplomacia deve apoiar a disseminação internacional da língua e cultura portuguesas. O Instituto Camões deve deixar de ser uma reserva para nomeações político-partidárias e assumir-se como um instrumento de verdadeira difusão cultural 
A diplomacia que serve Portugal é a que potencie a melhor característica do povo português: a universalidade. Tudo o resto é supérfluo ou até perverso.
Paulo de Morais