Uma Nova Diplomacia
A diplomacia portuguesa
não serve o país. Os embaixadores continuam a viver com a pompa e circunstância,
reminiscências dos tempos coloniais. Os diplomatas, na sua maioria, constituem
uma classe obsoleta, uma verdadeira brigada de “mão fria” de tanto circularem de
copo gelado na mão¸ de recepção em cocktail. Divertem-se com os meios públicos,
chegando, em alguns casos, a utilizar as embaixadas apenas para festarolas.
Na última década, para
tentar justificar a sua existência, a diplomacia mascarou-se: os embaixadores
passaram a impulsionadores da internacionalização da actividade económica.
Esperar-se-ia que esta consistisse na promoção de produtos nacionais, bem como
à abertura de condições à instalação de empresas nos diversos mercados. Mas
esta nova diplomacia tem sido apenas a utilização de embaixadas como mais um instrumento
da promiscuidade entre a política e os negócios. Neste novo modelo, as empresas
protegidas do regime prosperaram além-fronteiras. Com José Sócrates, a J.P. Sá
Couto e o Grupo Lena ganharam negócios na América Latina. Já no consulado de
Passos Coelho, Paulo Portas promovia em Angola a Mota Engil, grupo empresarial
para o qual acabou por ir trabalhar. E a soleníssima viagem de Cavaco Silva à
China teve como principal feito a celebração de um acordo entre o China Development Bank e… o BES de
Ricardo Salgado. Já com o actual governo, tem havido umas tentativas
tíbias de mudança do paradigma, em particular no apoio aos emigrantes. Mas sabe
a pouco.
A diplomacia tem de revolucionar-se.
Urge colocar definitivamente as embaixadas e consulados ao serviço de Portugal
e, muito em particular, da comunidade emigrante. Deve disponibilizar serviços
públicos simplificados e descentralizados, proporcionar pontos de apoio aos
portugueses que viajam - empresários, estudantes ou turistas - sem qualquer
tipo de discriminação.
Para além disso, a
diplomacia deve apoiar a disseminação internacional da língua e cultura
portuguesas. O Instituto Camões deve deixar de ser uma reserva para nomeações
político-partidárias e assumir-se como um instrumento de verdadeira difusão
cultural
A diplomacia que serve
Portugal é a que potencie a melhor característica do povo português: a
universalidade. Tudo o resto é supérfluo ou até perverso.
Paulo de Morais