Pobreza Cultural
Falemos hoje de cultura, não
daquela Cultura que se atribui a um povo, não da Cultura do Povo Português,
afável e generoso, com uma criatividade sui generis, que do nada, ou melhor, do
muito pouco, criou uma gastronomia admirável de uma variedade regional
invejável na Europa e no Mundo.
Não desta cultura de alma
fadista e de tradições regionais mais ou menos bairristas que se distinguem de
norte a sul do país e ilhas.
Falemos da cultura que nos
falta, da cultura que se desenvolve com a educação, da cultura apelidada por
alguns de erudita e que se encontra afastada da maioria dos cidadãos, até mesmo
de muitos licenciados.
A cultura musical por exemplo,
é lamentável que a maioria das nossas crianças não tenha acesso à Música, dita
clássica. Música cuja audição promove paz e bem-estar, música que contribui
para uma maior concentração, música que contribui para um melhor raciocínio
matemático. Provavelmente se houvesse o hábito de se trabalhar ao som de boa
música, nas nossas salas de aula, haveria mais concentração e menos
indisciplina.
A maioria do nosso povo, não
teve nunca, a oportunidade de assistir a um concerto executado por uma
orquestra. Claro que felizmente temos as bandas de música, que por carolice de
muitos, consegue ir dando o seu contributo nesta grande lacuna da nossa
educação, mas não é a mesma coisa.
Mas não nos fiquemos pela
música, a ópera, a pintura, a escultura, o teatro, será que são artes apenas
para uns seres superiores e privilegiados?
Ninguém pode gostar daquilo
que não conhece!
Quando se minimizam, nas horas
curriculares, as disciplinas dedicadas à arte e ao desporto (que não seja
apenas futebol) e se privilegiam a mecanização de “saberes” que contam para os
rankings das escolas, estamos com certeza a pôr em causa o futuro destas
gerações e da sua qualidade de vida.
Depois, quem é que pode pagar
pela pouca oferta que existe nas nossas salas de espectáculos, quem é que pode
ir a galerias e museus? Claro que quando o dinheiro não chega para as
necessidades básicas, as pessoas nem sequer podem pensar em ir a um
espectáculo, que muitas vezes nem sabe apreciar, porque desconhece, porque não
teve oportunidade de aprender a gostar.
Não há dinheiro para a
cultura, é sempre o “parente pobre” das apostas dos governos, que vão
subsidiando com migalhas dos orçamentos, este e aquele projecto, sem que se
aposte numa estratégia de desenvolvimento cultural, quer nas escolas, quer na
sociedade em geral.
O curioso, é que apesar de não
haver dinheiro para as artes e para a cultura, continuam a haver uns “artistas”
que qual “mágicos/malabaristas” fazem desaparecer para qualquer offshore, não
migalhas, mas milhares de milhões de euros do dinheiro que é de todos.
Estes não são com certeza os
“artistas” que queremos apoiar!
Fazem-se estudos da “linha de
pobreza” na Europa, sempre baseados nos rendimentos familiares, que é bem
variável de país para país. Mas a pobreza é bem mais do que isso. A ignorância cultivada
e a manipulação dessa ignorância, para manter o povo num conformismo, onde o
espírito critico não tem lugar, são com certeza uma outra forma de pobreza não
mensurável.