Os manuais escolares têm sido tema
de discussão nos últimos dias. Este é um assunto que há muito preocupa a
comunidade de cidadão, pais e encarregados de educação que têm a consciência de
que a educação tem que ser uma tarefa de todos, da sociedade em geral.
A Educação a seguir ao 25 de
Abril teve uma época de grande entusiasmo e inovação, mas, também de algum
desnorte. No entanto a preocupação pelas práticas inovadoras na educação, faziam
parte do dia a dia das escolas e dos professores, não obstante os paupérrimos
recursos de então. Como é natural a seguir veio a “estabilidade” e começaram a
aparecer em catadupa oferta de manuais escolares das mais diversas editoras.
Essa grande oferta, fez
despertar a sede de negócio, e, as grandes editoras começaram a absorver as
mais pequenas, numa ânsia de controlar o negócio de um mercado bem prometedor.
Por outro lado, os
professores, cada vez mais assoberbados com trabalhos burocráticos, foram-se
deixando levar por ofertas mais estruturadas que lhe facilitavam a vida.
A profissão de professor
deveria ser sempre criativa e pouco rotineira, os alunos e as circunstâncias
são diferentes, logo não se podem usar as mesmas estratégias de uma turma para
outra, ou de um ano para o outro. Esta possibilidade de colocar criatividade no
dia a dia, deveriam ser o maior desafio desta profissão.
Os manuais escolares, deveriam
ser auxiliares dos professores e nunca o contrário. Mas, de repente com as
ofertas das editoras, não apenas de manuais escolares, mas dos seus “projectos”,
os professores vêem-se confrontados com uma nova realidade, com o risco de poderem
facilmente passar a ser, eles, os auxiliares dos manuais.
A fantástica função de
professor, é pervertida e condicionada ainda pelo apelo gráfico, onde abundam
as ilustrações, ricamente coloridas, mas onde a experimentação real é colocada
em segundo plano, perdendo-se por isso a significância das aprendizagens
experimentadas.
Ainda há pouco tempo, surgiu o
debate da situação tradicionalista e desajustada das escolas, face à época de
grandes mudanças em que nos encontramos, parecendo inclusivamente existir um
retrocesso, voltando-se a um modelo livresco e expositivo de ensinar. Esta seria
a oportunidade de repensar a educação, procurando-se formas mais participadas
de aprendizagem activa, motivando a procura do conhecimento e estimulando a
vontade de aprender.
Mas de repente surgiram os
resultados dos ranking das escolas e as nossas apresentaram pequenas tendências
de melhoria nos resultados. Imediatamente se esqueceu o debate iniciado, porque
afinal estaríamos no bom caminho!
E pronto, alegres e contentes,
com uns resultados medidos por testes internacionais de ensino formatado e
massificado, onde as várias inteligências hoje conhecidas, não têm lugar, onde
não tem cabimento a capacidade de análise critica, o raciocínio ou a construção
de saberes. Ficamos conformados e tudo continua na mesma. Carradas de livros caríssimos
(que os professores se sentem na obrigação de utilizar até à exaustão, pois os
pais gastaram muito dinheiro neles). Livros impingidos às escolas e aos
professores. Professores que por comodismo ou inércia, nem sequer questionam a
utilização, mesmo quando são confrontados com responsabilidades e benefícios,
dos quais só usufruem eventualmente as migalhas, pois o grande “bolo”
continuará a ser das editoras instaladas, cujo poder consegue inclusivamente
colocar em causa as boas intenções de qualquer reforma do próprio Ministério.
É preciso e urgente repensar a
Educação, sem a influência dos interesses e lóbis livreiros e com a consciência
de que o Mundo mudou. O Mundo muda em cada dia e as crianças têm que ter uma
escola mais desafiante e motivadora de aprendizagens significativas, que terão
que as acompanhar ao longo da vida. Aprendizagens que se fazem com os outros,
com a natureza, com a experiência e não apenas com manuais escolares.
Como afirmava Aristóteles:
"Ensinar não é uma função vital, porque
não tem o fim em si mesma; a função vital é aprender."