“Mocidade Portuguesa” e Bullying
A palavra bullying apareceu há
relativamente pouco tempo no nosso léxico. A entrada e o significado deste
anglicismo utilizado actualmente, pouco difere nos comportamentos e práticas
daquilo que há muito tempo atrás acontecia em Portugal.
Lembro-me que nos anos sessenta
esta palavra “bullying” não existia no vocabulário das nossas escolas, mas já
se faziam sentir os seus efeitos através dos abusos perpetrados, muitas vezes
por alguns dos responsáveis corporativos, à época, mas, a maioria das vezes por
colegas de escola.
Há ainda hoje, um sentido dolorido
e de revolta, de quem teve que passar pelas fileiras da Mocidade Portuguesa obrigatória,
do regime salazarista.
Obrigados semanalmente às
quartas-feiras e sábados a participar nas actividades “paramilitares”, onde não
faltava a saudação nazista, eramos comandados por colegas da mesma idade,
outros até mais novos, mas já com o estatuto de diferenciada militância,
interpretando à risca o autoritarismo e as orientações emanadas do regime. Eram
de facto uns fieis artífices da crueldade, gerando danos físicos e psicológicos,
em alguns casos irreversíveis, numa prática violenta de autentico bullying.
A maioria dos jovens, embora
obrigados a participar, não reconheciam qualquer interesse, beneficio ou
bondade destas práticas no seu percurso escolar, sobretudo os que não vivendo
na cidade, ansiavam por regressar às suas terras, para o carinho e conforto das
suas famílias.
Eram penosos aqueles sábados.
A situação agravava-se quando não
existiam meios económicos para aquisição das fardamentas, sendo humilhados e motivo
de chacota, ridicularizados e chantageados, através da ameaça de que poderiam
chumbar o ano, independentemente dos bons resultados escolares.
Os jovens cresceram, muitos
daqueles “chefes” após um percurso protegido e comprometido, foram poupados ou
protegidos ao serviço militar obrigatório.
Deu-se o 25 de Abril e aqueles
meninos militaristas e tiranos para com os seus colegas, transformam-se
repentinamente em grandes democratas. Mais uma vez são protegidos e de novo são
colocados em locais relevantes, protagonizando agora o papel de grandes antifascistas.
Conseguem ocupar lugares de destaque e vão-se moldando conforme as conveniências
mais à esquerda ou mais à direita. Lamentavelmente continuam a alimentar tiques
de superioridade e desrespeito pelos os outros.
Estas destacadas chefias da
Mocidade Portuguesa foram e são verdadeiros camaleões da política nacional,
utilizam o seu camuflado conforme os seus interesses.
Acredito que qualquer que fosse o
rumo politico em Portugal, eles continuariam a conseguir sempre ter o jogo de
cintura, a maleabilidade e a desfaçatez de se adaptarem em qualquer
circunstância para prosseguirem os seus intentos.
E eles continuam por aí!
Luís Serrenho